Por Lucas Guaraldo*
Com o objetivo de aumentar a precisão das estimativas de CO2 na bacia amazônica, pesquisadores de instituições brasileiras, inglesas e norte-americanas compararam resultados de diferentes metodologias. Com isso, cientistas buscam entender melhor as características das diferentes abordagens disponíveis na região e melhorar modelos de medição brasileiros.
Os resultados foram apresentados no artigo “Emissões de CO2: estimativas bottom-up de uso e cobertura da terra são consistentes com medidas top-down baseadas em medições atmosféricas?”, publicado nesta semana na revista científica Frontiers.
“Analisamos pela primeira vez duas abordagens de estimativa de emissões de carbono e consideramos medições diretas de amostras da atmosfera e medições indiretas utilizando dados de uso e cobertura da terra derivados de imagens de satélite. Dessa forma, podemos entender os potenciais e limitações das diferentes técnicas de quantificação de gases do efeito estufa e melhoramos a Mensuração, Relato e Verificação (MRV) dos Programas Jurisdicionais de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), por exemplo”, comenta Celso H. L. Silva-Junior, pesquisador no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e co-autor do estudo.
O artigo foi elaborado por pesquisadores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), das universidades de Manchester e de Leeds, e da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional).
Foram utilizadas duas abordagens para estimar os balanços de carbono: os modelos bottom-up e top-down. No modelo top-down, as estimativas de gases de efeitos estufa surgem a partir de padrões atmosféricos espaciais e temporais de emissões. No modelo bottom-up, pesquisadores coletam amostras em áreas específicas no chão? da floresta e ampliam os dados espacialmente.
Comparando o sistema total de CO2 nos modelos bottom-up e top-down, os pesquisadores concluíram que as estimativas da segunda abordagem são significativamente mais elevadas. De acordo com o modelo bottom-up, a Amazônia seria um sumidouro de carbono entre 2010 e 2014, mas modelo top-down aponta que a floresta emite mais carbono do que sequestra desde 2010.
As duas abordagens indicam 2016 como o pico de emissões na bacia amazônica. Estimativas bottom-up caracterizam o desmatamento e a degradação florestal como principais focos da emissões na região, correspondendo a 58% e 37% das emissões registradas entre 2010 e 2018.
“A continuidade das medições atmosféricas amazônicas é essencial para compreender o balanço de carbono na Amazônia, pois os processos de desmatamento e degradação florestal têm aumentado acentuadamente nos últimos anos”, diz um trecho do artigo. Os pesquisadores alertam: “É necessário analisar as abordagens bottom-up quanto as top-down para alcançar as metas climáticas estabelecidas pelo Acordo de Paris”.
Para validação dos dados, os valores obtidos para os anos passados foram comparados com os resultados de ferramentas como o Carbam, projeto do Inpe que monitora os gases na Amazônia.
“Geralmente, as emissões estimadas pela abordagem bottom-up tendem a ser mais baixas. Compreender as diferenças ajudará a melhorar ambas as abordagens e a nossa compreensão do ciclo de carbono da Amazônia sob a pressão das atividades humanas e das alterações climáticas. Estudos anteriores comparando ambas as abordagens mostram que os modelos bottom-up fornecem detalhes que a abordagem atmosférica top-down não capturar”, explica outro trecho do estudo.
Carbono na bacia amazônica
Nas últimas décadas, as áreas de vegetação nativa da Amazônia têm sido consideradas os principais sumidouros de carbono nos trópicos. Perturbações causadas por humanos ou por mudanças climáticas têm impactos diretos no ciclo global de carbono.
Segundo levantamento do INPE, o Brasil tem 49% da floresta amazônica, mas também é o país com o maior desmatamento na região, com 18% do bioma comprometido em 2021. Assim como em outros países tropicais, mais de 46% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa surgem a partir das mudanças na cobertura da terra, ligadas ao desmatamento e ao fogo.
Apesar da redução de 80% do desmatamento observada entre 2004 e 2012, graças a implementação do PPCDAm e melhorias na fiscalização, os últimos anos têm sido de aumento na perda de vegetação nativa. Pesquisadores alertam que os anos de desmatamento, degradação e fragmentação da floresta amazônica aumentaram a vulnerabilidade das florestas aos impactos das mudanças no clima.
Em 2010, a floresta amazônica tinha 82% de sua área coberta por vegetação nativa. Entre 2010 e 2018, cerca de 97 mil km2 foram perdidos, uma área maior do que Portugal, mas que representa 3% da extensão da Amazônia brasileira. Com esse aumento nas áreas derrubadas, pastagens e florestas secundárias – áreas desmatadas em processo de recuperação – se tornaram a segunda e terceira maior classe de uso do solo no bioma, segundo dados do INPE.
Jornalista no IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*