Paulo Moutinho fala sobre devastação da Amazônia para a Folha de S. Paulo

31 de maio de 2010 | Notícias

maio 31, 2010 | Notícias

Punição a desmatadores ou desaquecimento da economia? Um estudo publicado nesta terça-feira (25/5) conclui que metade do mérito pela queda do desmatamento na Amazônia em meados desta década não é do aumento da fiscalização, mas sim da baixa no mercado de commodities.

Com uma série de comparações estatísticas, cientistas do Brasil e dos EUA calcularam que 44% da redução do desmate observada de 2004 a 2006 foi reflexo da economia fraca. O resto seria mérito de políticas governamentais.

A criação de novas áreas protegidas fez 37% do serviço, e os 18% finais foram atingidos por meio de fiscalização e policiamento para coibir desmatamento ilegal -as chamadas políticas de “comando e controle”.

Nesse período, o desmate anual caiu de 27 mil km2 para 14 mil km2. Embora a crise tenha sido o principal fator individual por trás da queda, a nova pesquisa comprova que o governo pode ter papel bem importante.

O novo estudo, liderado por Britaldo Soares-Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais, traz outra boa notícia: os produtores que deixaram de desmatar em uma determinada área não migraram até outras regiões para cortar mais árvores.

Vazamento tapado

Esse fenômeno, conhecido por economistas como “vazamento”, comprometeria uma série de esforços para ajudar a combater a emissão de gases do efeito estufa. Mas não é o que está acontecendo, segundo o estudo de Soares-Filho e colegas, a ser publicado pela revista “PNAS”, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Muitos ambientalistas esperam que negociações internacionais aprovem a adoção de sistemas de negociação do tipo Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal). Esse mecanismo prevê que países em desenvolvimento recebam compensação financeira por evitar o desmate, mas para isso é preciso “tapar o vazamento”.

Segundo Soares-Filho, seu trabalho mostra que o objetivo foi cumprido. “A queda [do desmate] fora das áreas protegidas, foi proporcionalmente até maior do que a redução dentro dessas áreas”, disse à Folha. “Isso implica que não houve vazamento.”

Segundo o ecólogo Paulo Moutinho, coautor do trabalho, parte do segredo desse sucesso foi a criação de unidades de conservação próximas ao chamado arco do desmatamento -região no sul de Mato Grosso e oeste do Pará que marca a fronteira entre a floresta e as fazendas que avançam sobre ela.

“Não dá para o produtor rural deslocar o desmatamento de uma área de fronteira para uma área remota”, diz. “O custo cresce muito.”

Lucro à frente

Paulo Artaxo, físico atmosférico da USP que não participou do trabalho, diz ter ficado surpreso com o impacto das áreas protegidas. “Elas teriam o potencial de reduzir cerca de 8 bilhões de toneladas de carbono até 2050”, diz. Seria equivalente aos EUA ficarem um ano inteiro sem queimar nem uma gota de combustível sequer.

Para Soares-Filho, a própria perspectiva do Redd já ajudou a controlar o desmate nos últimos anos: “Muitos fazendeiros têm expectativa de poder ter alguma remuneração pela conservação de suas florestas, e isso fez com que eles pensassem duas vezes antes de desmatar”.

Segundo Moutinho, se o custo de implementação de todas as unidades de conservação for igual ao lucro ao qual a agropecuária renuncia por deixar de desmatar nelas, seu valor seria de US$ 147 bilhões. Não é muito, se dividirmos o valor entre os mais de 5 milhões de km2 da Amazônia Legal. “Poderíamos vender isso no mercado em créditos [de carbono] por um valor muito maior”, diz.

Leia matéria na íntegra – Folha.com

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