Lucas Guaraldo*
Áreas de pastagem foram as áreas mais afetadas por incêndios e queimadas em 2023, correspondendo a 28% de toda a área queimada no ano, aponta o Monitor do Fogo, iniciativa da rede MapBiomas Fogo com parceria e coordenação do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Ao todo, foram queimados 4,8 milhões de hectares de pastos, área maior do que a Dinamarca.
Campos foram o segundo tipo de vegetação que mais sofreu com queimadas no ano passado, totalizando 18,6% do fogo, seguidos pelas formações savânicas, típicas do Cerrado, com 18,4% dos incêndios, e florestas, com 15%. Juntas, as três categorias totalizaram 52% de toda a área queimada no Brasil, cerca de 9 milhões de hectares.
“Em áreas antrópicas o fogo atinge majoritariamente as pastagens porque ele é utilizado como uma técnica de manejo, estimulando o crescimento de novas plantas. No entanto, é crucial que seja empregado de forma controlada e responsável, em épocas específicas e atendendo a legislação ambiental, pois pode fugir do controle e se tornar um incêndio florestal”, alerta Vera Arruda, pesquisadora do IPAM e responsável pelo Monitor do Fogo.
Aumento da área queimada
No total, a área queimada chegou a 17,3 milhões de hectares em 2023, um aumento de 6% em relação a 2022. A área queimada equivale a 2% de todo o território nacional e supera a extensão total de países como Grécia, Inglaterra e Hungria.
Entre os biomas, a Amazônia foi a mais afetada pelo fogo, sofrendo 62% da área queimada e tendo 10,7 milhões de hectares atingidos pelas chamas, um aumento de 35,4% em relação ao ano anterior. Já no Cerrado, segundo bioma que mais queimou em 2023, o aumento foi de 29%, tendo 5 milhões de hectares afetados pelo fogo. No geral, Amazônia e Cerrado sofreram 91% das queimadas que ocorreram no Brasil em 2023.
Em função da seca e das altas temperaturas, as queimadas foram mais fortes nos meses de setembro, outubro e novembro. Juntos, os três meses totalizam 10,4 milhões de hectares queimados, 63% de tudo que queimou no ano. Se comparados com os números registrados em 2022, o período entre setembro e novembro viu um aumento de 4% na área queimada em todo o Brasil, enquanto na Amazônia o aumento foi de 44% durante o trimestre.
“O aumento da área queimada no Brasil em 2023 em relação a 2022 teve o fator climático como protagonista. A seca severa que atingiu a Amazônia acabou por deixar a floresta mais suscetível aumentando a área afetada por incêndios e também os acidentes com fogo em áreas agropecuárias”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora da rede MapBiomas Fogo.
Estados
Recordista de fogo em 2023 e um dos Estados mais impactados pela seca de 2023, o Pará viu o seu número de queimadas saltar 39% no ano passado. Considerando só o mês de dezembro, o Pará teve um aumento de 572% em relação ao registrado no mesmo mês em 2022. As queimadas atingiram, principalmente, a região leste e sul do Estado.
Na segunda posição da lista de maiores focos de incêndios está o Maranhão, com 1,9 milhões de hectares queimados, praticamente a mesma área de 2022. Roraima completa a lista com 1,4 milhões de hectares queimados, um aumento de 167% em relação a 2022.
Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*
Foto da capa: Carlos Eduardo Rodrigues**