Para o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), não há como falar da relação entre clima, Amazônia e precipitação sem lembrar do professor Enéas Salati. Com mais de 140 trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais, a ciência se despede do engenheiro agrônomo, falecido no último dia 5 de fevereiro, aos 88 anos, em Piracicaba, São Paulo.
Salati foi o principal pesquisador responsável pela descrição do ciclo da água da floresta amazônica brasileira – feito que, mais tarde, serviria de base para todo o conhecimento hidrológico da região.
“Essa é uma perda irreparável para a ciência do nosso país. O trabalho de Salati foi tão pioneiro que permitiu a criação de todo um novo campo de estudo sobre a relação entre floresta e chuva. Uma mente brilhante, cujo potencial possibilitou conhecermos porção preciosa da influência que a Amazônia exerce sobre outras regiões”, destaca o diretor executivo do IPAM, André Guimarães.
Ainda na década de 1970, o cientista iniciou estudos a respeito do papel da Amazônia sobre o clima em função da evapotranspiração, nos quais demonstrou que o bioma gera aproximadamente metade de suas próprias chuvas. Isso possibilitou levantar reflexões referentes a desmatamento, ao ponto de degradação do ciclo hidrológico e sua importância no apoio à existência dos ecossistemas da floresta tropical.
Assim como a longa viagem que fazem os átomos de oxigênio presentes na água da chuva que molha a Amazônia – apontaria Salati –, suas contribuições também percorreram diferentes caminhos sobre o meio ambiente: recursos hídricos, energia solar, emissões de gases de efeito estufa, impactos no clima por atividades humanas, com ênfase no desmatamento do bioma, nas mudanças climáticas globais e no Nordeste brasileiro semiárido.
Em uma de suas entrevistas, quando ainda era diretor técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) – cargo que ocupou até 2011 –, Salati trouxe a Amazônia para perto da vida urbana e agrícola do país inteiro: “É importante que todos se perguntem: se a floresta for destruída com desmatamentos e com o aquecimento global, o que vai acontecer com o clima do resto do Brasil?”
Nossos mais profundos sentimentos à família e aos amigos de Salati, e toda a nossa admiração e agradecimento ao professor.