Onde nasce o chocolate: o verdadeiro sabor da Páscoa

20 de abril de 2025 | Opinião

abr 20, 2025 | Opinião

Elisangela Trzeciak*

Na Páscoa, época de renascimento, partilha e esperança, o chocolate ganha destaque nas celebrações. Mas por trás de cada trufa ou ovo artesanal, existe uma história que muitas vezes passa despercebida: a de quem planta, cuida e transforma o cacau em sabor. Nesta Páscoa, convido à reflexão: que tal celebrar com mais consciência, valorizando não só o produto, mas também as mãos que o tornam possível?

Antes de chegar até você em forma de doce, o chocolate nasce do chão. No chão de muitos lugares e comunidades, inclusive na Amazônia, onde o cacau é cultivado com dedicação, enfrentando sol, chuva, distâncias e desafios, por agricultores familiares que fazem dessa cultura uma cultura sustentável.

Cada amêndoa carrega o esforço de famílias inteiras que vivem da terra, com coragem, dignidade e o sonho de um futuro melhor. É nesse contexto que a bioeconomia ganha força: ao valorizar os saberes locais, a floresta em pé e o uso sustentável dos recursos naturais, o cultivo do cacau se transforma em uma estratégia real de desenvolvimento que respeita o meio ambiente e gera renda no território. O chocolate, assim, deixa de ser apenas um produto e passa a ser um símbolo de um novo modelo econômico possível — mais justo, inclusivo e conectado com a vida da floresta.

Na região da Transamazônica, maior polo produtivo de cacau do Estado do Pará, muitas cooperativas, agroindústrias e famílias são exemplo vivo de que é possível produzir com sustentabilidade, compromisso ambiental e afeto. O chocolate feito por essas mãos é mais do que sabor: é resistência, união e transformação social. Cada barra traduz um modelo de vida onde a cooperação substitui a competição e o coletivo supera o individual.

A cacauicultura, base de tudo que se transforma em chocolate, é também símbolo de renascimento. Assim como a Páscoa celebra novos começos, o cultivo do cacau representa a retomada da esperança para muitas famílias agricultoras da Amazônia. Em cada lavoura, brota não apenas um fruto, mas também a força de quem resiste, sonha e transforma a terra em sustento. O cooperativismo, presente nesse processo, reforça esse ciclo de vida: une comunidades, valoriza o protagonismo feminino, fortalece saberes tradicionais e semeia autonomia. É na coletividade que a mudança floresce — e é no trabalho conjunto que o chocolate ganha alma, sentido e propósito.

E o campo, onde tudo começa, nos ensina sobre tempo, ciclos e cuidado. Ensina que, assim como a terra precisa ser respeitada, também precisamos respeitar quem nela trabalha. Celebrar a Páscoa com responsabilidade é também lembrar da importância da sustentabilidade, da preservação da floresta, e do consumo consciente.

Que nesta época, ao saborear o chocolate, possamos saborear também o que ele representa: vida, dignidade e conexão com a terra. Porque valorizar o chocolate é, antes de tudo, valorizar quem planta a semente. E isso, no fim das contas, representa o verdadeiro espírito da Páscoa. Ao reconhecer o outro, repartir com amor e construir caminhos de esperança.

Coordenadora do escritório do IPAM em Altamira*

Foto de capa Sara Leal, coordenadora de comunicação do IPAM*



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