Sara R. Leal*
Se dependesse de pessoas como Adelson Arruda de Lima, a grilagem e os grileiros nunca teriam terreno fértil para se instalar na Amazônia. Nascido e criado no município de Lábrea, no Amazonas, trabalhou a vida toda como agricultor familiar e, paralelamente, se engajou e ainda se engaja em diversos movimentos pela conservação da floresta e das pessoas que nela e dela vivem.
No ano de 1996 foi convidado a trabalhar na CPT (Comissão Pastoral da Terra). Lá, conta ele, participou de diversas formações ambientais que o fizeram se apaixonar pela temática.
Entre as conquistas da CPT das quais participou estão a criação de organizações comunitárias às margens do rio Purus e o apoio na preservação de rios e lagos. “Nós conseguimos preservar três rios e 15 lagos que envolviam cinco comunidades”, recorda. Também contribuiu para a criação de duas unidades de conservação: a reserva extrativista do rio Ituxi e a reserva extrativista do Médio Purus.
A destinação de terras públicas – com a criação de reservas extrativistas, por exemplo – é uma das principais medidas para barrar a grilagem que, destaca Adelson, tem crescido no sul de Lábrea. “A invasão começa com grileiros abrindo ramais na mata para tirar madeira de forma ilegal. Antes se quebrava mil hectolitros [ou 100 mil litros] de castanhas nos nossos castanhais. Hoje, estão quebrando uns dez. É por que as castanheiras deixaram de produzir? Não. É porque os castanhais, que os madeireiros chamam de cedro bola, foram derrubados”, relata.
Segundo ele, a grilagem no sul de Lábrea já atravessou os limites do rio Ituxi e está chegando na beira do rio Sapetini. “Nessa região estão as cabeceiras dos rios. Desmatando as cabeceiras dos rios, eles começam a secar – a exemplo do que aconteceu em 2023, quando houve uma das maiores secas que o Estado do Amazonas já sofreu”, explica.
Adelson conta que a seca afeta as comunidades ribeirinhas, diminuindo a produção agrícola e aumentando a mortandade de peixes. “Sem falar na questão do aquecimento global: há 30 anos atrás você conseguiria trabalhar no campo até as 11 horas da manhã. Hoje, quando dá 9 horas, você tem que ir embora pois não consegue mais enfrentar o sol”.
Atual secretário de finanças do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do município de Lábrea, Adelson também faz parte da Aliança Sul do Amazonas. O grupo engloba os municípios Boca do Acre, Pauini, Lábrea, Humaitá, Canutama, Tapauá, Apuí, Novo Aripuanã, Manicoré e Maués; e conta com a contribuição de organizações da sociedade civil, entre elas, o IPAM.
“A gente senta e discute com as organizações, com os governos federal, estaduais, municipais, sobre mudanças climáticas, queimadas, grilagem e derrubada desenfreada da floresta”. No dia 25 de fevereiro, a Aliança entregou um documento nas mãos da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva solicitando a destinação de terras públicas para agricultura familiar ou qualquer outro modelo de unidade de conservação.
“A gente vê que as mudanças climáticas acontecem porque os grileiros derrubam a floresta. Então, se não tiver alguém que defenda a preservação do meio ambiente, pior vai ficar. Nossa luta é para que nossos filhos, nossos netos, tenham floresta, tenham água, tenham peixe. O desenvolvimento do nosso país não precisa passar pela destruição”, conclui.
*Coordenadora de comunicação do IPAM