Por Lucas Guaraldo*
Em webinário realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a pesquisadora e coordenadora técnica do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Erika Pinto, apresentou o mecanismo de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) e apontou a ferramenta como um caminho para proteger ecossistemas e o incentivar modelos sustentáveis de produção.
O mecanismo de PSA é uma ferramenta que remunera proprietários de terras pela adoção de práticas sustentáveis de conservação e recuperação ambiental, que protegem recursos naturais valiosos para a sociedade. Através da compensação, o PSA pretende incentivar a preservação de ecossistemas importantes para a regulação do clima, proteção do solo e saúde pública, ou priorizar modelos sustentáveis de produção.
“Quando você corta uma floresta, por exemplo, você perde umidade na área, você perde nutrientes e essas áreas ficam mais vulneráveis a doenças e outros problemas de produção. Nossa visão de mundo dificulta o reconhecimento do valor dos ecossistemas, mas isso é uma coisa nossa. Os povos indígenas sabem muito bem sobre os benefícios de manter uma vegetação um ecossistema saudável”, destacou a pesquisadora.
Um estudo da pesquisadora do IPAM e do Woodwell Climate Research Center Ludmila Rattis, publicado na revista científica Nature Climate Change, em 2021, demonstra que cerca de 30% das áreas agrícolas produtoras de milho e soja do centro-oeste já saíram do ideal climático para a produção. Segundo projeções, se o ritmo atual de desequilíbrio climático for mantido, até 70% das propriedades estarão em áreas impróprias para o cultivo nos próximos 20 anos.
“A gente já sofre as consequências das mudanças climáticas. As pessoas vem me contar que os igarapés que elas frequentam há mais de 30 anos, estão secando pelas primeiras vezes. Na agronomia, essa secura faz com que a gente perca produção, perca dinheiro mesmo. É mais barato investir em preservar do que não preservar”, destacou Erika.
Novas perspectivas
O pagamento por serviços ambientais surge como uma alternativa para outras soluções de pagamento para a preservação da biodiversidade e seus benefícios. Segundo a pesquisadora, o mecanismo também age como uma ferramenta de reeducação para outras ferramentas ambientais e financeiras, como o mercado de carbono.
“Temos que reeducar o mercado para que ele não entre com a mesma voracidade que ele já entrou em outras questões, como o próprio agronegócio. Se ignoramos essas questões humanas e pensamos nessa compensação de carbono apenas como números, vamos ter exatamente os mesmos problemas, mas vestidos de verde”, afirma.
Para a pesquisadora, tratar a preservação de florestas com mecanismos puramente econômicos, não leva em consideração as questões culturais e sociais da preservação e do uso do solo em regiões como a Amazônia. Erika também pontua que, além dos recursos para quem preserva, uma boa prática de pagamento por serviços ambientais precisa de políticas públicas que trabalhem para mudar a dinâmica de produção para modelos mais sustentáveis.
“O mercado de carbono ainda não está pronto para lidar com todos os desafios de recuperação e proteção de áreas de vegetação nativa e serviços ecossistêmicos. A questão das florestas é algo muito mais amplo e por isso precisamos de políticas públicas capazes de abarcar todas as questões sociais que envolvem essa preservação, não só uma compensação de carbono”, explica a pesquisadora.
Jornalista no IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*