Em webinar organizado pelo Um Só Planeta, em alusão ao Dia da Amazônia, André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), enfatizou o papel da Amazônia como parte da solução para a emergência climática e como o bioma é fundamental para garantir a segurança alimentar do planeta. Para ele, a floresta exerce função estratégica e deverá estar no centro dos debates da Conferência do Clima da ONU, a COP30, que será em novembro, em Belém (PA).

O webinar “Amazônia no centro da justiça climática” foi promovido pelo Um Só Planeta
“A Amazônia é talvez uma das peças mais centrais do tabuleiro do jogo climático que a gente vai discutir na COP30. Não existe nenhuma possibilidade de a humanidade chegar aos objetivos do acordo de Paris, de assegurar a segurança alimentar do planeta sem a Amazônia”, enfatizou. “A floreta estoca o equivalente a 10 anos de emissões de carbono globais. Sem a Amazônia, não há equilíbrio climático. Ela irriga a agricultura brasileira, dos países vizinhos e até da América Central. Se a gente colocar todos esses países que dependem deste regador natural que é a Amazônia para a produção de alimentos nós estamos falando de um bioma que ajuda a produzir alimento para 2 bilhões de pessoas.”
Enviado Especial da Sociedade Civil para a COP30, André Guimarães afirmou que, considerando outros países que têm florestas, a contribuição para garantir comida na mesa da população mundial é ainda maior.
“A Amazônia é a joia da coroa das florestas tropicais, sim, mas ela representa aproximadamente 50%. Há florestas importantes na África, na Indonésia e nos países asiáticos. Se for pensar nesse cinturão tropical do planeta, nós estamos falando de metade da produção de alimentos do planeta, que, por sua vez, assim como no Brasil, também depende de ciclos naturais de chuvas que são determinados pelas florestas”, afirmou.
Desmatamento
André Guimarães defendeu que o grande legado da COP30 seja o “fim do desmatamento para sempre” e um planejamento de longo prazo. “O desafio daqui para 2030 e um pouco mais adiante não é só reduzir o desmatamento, mas desenvolver a caixa de ferramentas para manter o desmatamento baixo. Estamos falando de incentivos para proprietários de terra não desmatarem, canalizar mais recursos para as comunidades indígenas e populações tradicionais que preservam a floresta, pagamento por serviços ambientais, investimentos para intensificação da agricultura. Se não fizer o dever de casa de mudar o modelo econômico, nós vamos ver o desmatamento voltar a crescer”, alertou.
O diretor também falou sobre o perfil das emissões brasileiras, comparado a outros países: metade é oriunda do desmatamento, 25% do agro e 25% de atividades como transporte, construção, energia etc. “Dentro dessa metade das emissões brasileiras, provocada pelo desmatamento, mais de 95% é resultante de atividades ilegais. No caso brasileiro, combater o crime, ou seja, prender bandido para reduzir o desmatamento, é cumprir com os nossos compromissos internacionais de reduzir emissões”, pontuou.
Financiamento climático
Principal entrave das últimas edições das COPs, o financiamento climático deve caminhar numa direção alternativa, na avaliação de Guimarães. Para ele, o cenário de mudanças climáticas impõe a necessidade de mudar o modelo expansionista para mecanismos que valorizem a preservação e citou o TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre). “Começa a construir um novo paradigma em que a floresta e os sistemas naturais passam a ter valor para os sistemas humanos. O TFF é uma evidência disso, de remunerar floresta em pé e as populações tradicionais que cuidam dessas florestas serem pagos pelo serviço que prestam para toda a humanidade. É uma ferramenta financeira que promove justiça”, argumentou.
O webinar “Amazônia no centro da justiça climática” teve a participação de Natalia Mapuá, Coordenadora da Aliança de Juventude por Governança Energética; Nabil Kadri, Superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES; Henrique Leite de Vasconcellos, Gerente Executivo da área de ASG do Banco do Brasil; Mariana Espécie, Assessora Especial do Ministro de Minas e Energia; e foi mediado por Vanessa Oliveira, editora-assistente do Um Só Planeta.
