Mil quilômetros sobre duas rodas para entender a Transamazônica

26 de setembro de 2017 | Notícias

set 26, 2017 | Notícias

Dois cientistas e um astronauta americano encerram hoje (26/9), no Amazonas, uma aventura de mais de mil quilômetros sobre bicicletas pela rodovia Transamazônica, que cruza a Amazônia de leste a oeste.  Durante o trajeto, eles registraram queimadas e o desmatamento da maior floresta tropical do mundo, e contaram com a solidariedade de habitantes da região para chegar ao final do percurso.

Osvaldo Stella e Paulo Moutinho, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e Chris Cassidy, chefe dos astronautas da NASA, a agência espacial americana, percorreram o trajeto em 16 dias entre Itaituba (PA) e Humaitá (AM) e testemunharam as belezas da floresta – mas também desmatamentos, queimadas e garimpos ilegais, além das dificuldades daqueles que vivem ao longo da estrada.

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A aventura recebeu o nome de Transamazônica +25, pois aconteceu 25 anos depois de Stella percorrer a estrada pela primeira vez em uma bicicleta. “Na época, eu estava impactado pela ECO-92, encontro no Rio que marcou as discussões globais sobre desenvolvimento sustentável, ele queria ver de perto o que era a Amazônia. Aquela viagem marcou minha vida e direcionou minha carreira”, diz.

Para Cassidy, esta foi uma oportunidade única de ver em outra perspectiva a Amazônia que poucos conhecem: a vista do espaço. “Na estação espacial, quando olhamos a Terra, a Amazônia aparece como uma grande mancha verde. Mas ela parece diminuir.”

Destruição

Ao longo da aventura, os três ciclistas observaram a fragilidade da floresta e como os recursos naturais são rapidamente impactados pela ação humana quando não há planejamento adequado para sua ocupação.

Quando a vegetação estava preservada, como em unidades de conservação e terras indígenas, o clima era mais ameno e a água, mais pura. Essa situação era rapidamente modificada em regiões onde o garimpo ilegal ou a pecuária extensiva haviam derrubado as árvores perto da estrada.

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“O primeiro impacto é sobre a qualidade da água, que fica contaminada pelos produtos usados no garimpo, pela erosão dos solos ou pelos dejetos do gado. A própria população local sente a falta do recurso, e precisa cavar poços para buscar o que antes tinha no rio ao lado”, conta Moutinho.

Outra cena que os impactou foram as queimadas. Em certos trechos do caminho, a fumaça não se dissipava, tornando o céu permanentemente branco. Até uma castanheira, espécie protegida por lei, foi vista em chamas. O que os três ciclistas observaram e registraram no chão é o que os cientistas têm registrado com a ajuda de satélites: os incêndios florestais estão piores do que no ano passado.

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Solidariedade

Se por um lado a ação antrópica desmatou e impactou a floresta, os aventureiros contaram com a ajuda dos moradores e dos trabalhadores que vivem à margem da rodovia. Garimpeiros, motoristas e pequenos comunitários foram fundamentais para fornecer água e abrigo durante o trajeto. “Tirando uma noite, quando fomos expulsos de um garimpo pelo segurança local e tivemos de pedalar 10 quilômetros no escuro, sempre fomos bem recebidos”, diz Moutinho. “Essas são pessoas esquecidas pelo poder público, envelhecidas pelo trabalho árduo mas que perduram com grande tenacidade.”

A Transamazônica por si só também foi um desafio: em todo o trecho percorrido ela não tem asfalto e, com a seca, a poeira era companheira constante dos ciclistas, dificultando que fossem vistos e tivessem uma boa visão do caminho. Eles viram motoristas consertando estradas com as próprias mãos, ou não poderiam seguir viagem.

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Os ciclistas registraram todo o percurso em vídeo e fotos, que estarão à disposição do público no site, no Instagram, no Twitter e no Facebook – onde alguns registros, enviados durante a viagem, já podem ser vistos.

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