Pela primeira vez em 30 edições da Conferência do Clima, a pauta do fogo ganhou protagonismo. Aprovado durante a COP30, em Belém, o Chamado para Ação sobre Gestão Integrada de Incêndios e Resiliência a Incêndios Florestais já recebeu o apoio de 61 países e quatro organizações internacionais até agora (veja a lista abaixo). A estratégia reconhece a gestão do fogo como uma prioridade para a adaptação do clima, a proteção dos ecossistemas e a segurança dos povos e comunidades. O call to action é liderado pelo governo brasileiro e tem a participação de uma coalizão de 60 entidades brasileiras, entre elas o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
“Essa é a primeira vez numa conferência de clima, que há algo nesse nível de presidência falando sobre gestão do fogo. O fogo permeia muito do que está sendo discutido aqui. Estamos falando, por exemplo, de toda mudança de uso da terra, todas as emissões. Toda mudança de uso da terra está relacionada ao uso do fogo, mas às emissões por incêndios florestais, elas não entram nessa conta. E a gente vê o que aconteceu ano passado no Brasil”, afirmou
A preocupação está baseada num histórico alarmante. Países como Belize, Rússia, Austrália e Colômbia tiveram registros históricos de perda de vegetação causadas pelo fogo. No ano passado, a área queimada no Brasil bateu recorde. Foram 17,9 milhões de hectares queimados, 58% na Amazônia, maior índice em 40 anos.
“Isso significa um crescimento de 500% nos impactos dos incêndios na taxa de desmatamento da Amazônia. Ainda assim, o governo brasileiro conseguiu, mesmo com o desafio dos incêndios, reduzir em mais de 50% nos últimos três anos. Isso significa dizer: se não fossem os incêndios, a taxa de desmatamento deste ano seria a menor da história”, avaliou André Lima, Secretário Extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial no MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima).
Solução urgente
Criada no ano passado, a política de MIF (Manejo Integrado do Fogo) tem auxiliado o entendimento de que o fogo é um elemento natural e essencial em muitos ecossistemas e que povos e comunidades tradicionais e indígenas fazem o seu uso para atender suas atividades, culturais e de subsistência, e modos de vida.
“O IPAM tem apresentado os dados dos impactos desses incêndios. A área queimada no Brasil não somente na Amazônia, mas nos outros biomas, a dinâmica do fogo. Então, isso ajuda muito a pensar o quanto que a gente está fora da curva e o quanto o fogo de fato tem impactado os territórios em geral”, enfatizou Ane Alencar.
A diretora de Ciência ressaltou ainda que a discussão precisa avançar para a agenda oficial, uma vez que o fogo é capaz de provocar impacto em soluções para as florestas que vem sendo discutidas como o TFFF (Fundo de Florestas Tropicais para Sempre), a coalizão Leaf, o REDD+, os pagamentos por serviços ambientais, as estratégias de bioeconomia e a restauração, por exemplo. “A gente precisa ter controle dessa ferramenta pra que a gente não tenha que queimar literalmente as nossas soluções que estão sendo pensadas e discutidas”, afirmou.
Confira a lista de adesões
Alemanha, Andorra, Argélia, Armênia, Áustria, Austrália, Benim, Brasil, Burkina Faso, Cabo Verde, Canadá, Chile, China, Colômbia, Cuba, Dominica, Eslováquia, Espanha, Equador, Filipinas, França, Gana, Gabão, Grécia, Guatemala, Guiné, Guiné-Bissau, Haiti, Honduras, Indonésia, Israel, Japão, Jordânia, Líbano, Libéria, Malásia, Marrocos, México, Mianmar, Moçambique, Nepal, Noruega, Países Baixos, Panamá, Paquistão, Peru, Portugal, Reino Unido, República da Coreia, República Popular Democrática da Coreia, República Dominicana, República Tcheca, Ruanda, Rússia, São Vicente e Granadinas, Sudão, Suíça, Turquia, Uruguai, Zâmbia, FAO (Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), OIMT (Organização Internacional de Madeiras Tropicais), PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
