Mais de 200 atores da cadeia do açaí participam de seminário em Belém

4 de agosto de 2023 | Notícias

ago 4, 2023 | Notícias

Por Sara Leal*

Mais de 200 atores da cadeia de valor do açaí, entre eles extrativistas, batedores artesanais, indústria, setor financeiro, gestores públicos e pesquisadores, participaram nos dias 1 e 2 de agosto do seminário “A cadeia do açaí no estado do Pará: desafios e oportunidades para a sustentabilidade”, em Belém. No total, estiveram presentes representantes de 18 municípios.

“São aproximadamente 120 mil famílias que vivem dessa atividade no Pará. Portanto, se trata de uma cadeia de produção fundamental do ponto de vista social, econômico e ambiental no estado”, afirmou Cassio Pereira, secretário da SEAF-PA (Secretaria de Agricultura Familiar do Pará). “É necessário discutir inovações tecnológicas para que esses extrativistas possam agregar mais valor à sua produção, pois percebe-se que ainda há certa inconformidade na distribuição [de renda] da cadeia”, complementou durante o evento.

Para Walkymário Lemos, Chefe-Geral da Embrapa Amazônia Oriental, presente no seminário, o açaí se apresenta como um dos grandes potenciais bioeconômicos da Amazônia. “Além da contribuição econômica, social e ambiental, carrega também algo muito relevante para a região que é a importância histórica e cultural dessas populações. Por isso, é uma cultura que nós temos que ter muito zelo e cuidado com os atores envolvidos”, pontuou.

Ângela de Jesus, presidenta da FETAGRI (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará) afirma que a cadeia do açaí é relevante não só para a economia do Pará, mas para a Amazônia como um todo. “No entanto, ainda enfrenta diversos desafios que vão desde a questão do plantio, até sua extração e industrialização. Por isso a importância de se reunir todos os atores envolvidos para pensar estratégias de melhorias”.

“Essa troca de ideias e conhecimentos permite que a sociedade saiba o que o governo já está fazendo e o instiga a aprimorar os projetos que já têm, além de proposição de novas políticas públicas”, disse Geraldo Tavares, gerente de fruticultura da SEDAP-PA (Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca).

Desafios e potencialidades

Durante o evento, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) apresentou parte dos resultados de uma pesquisa, realizada nos municípios de Belém e Ananindeua, que envolveu aproximadamente 500 batedores e empreendedores do açaí. “Como resultado, observou-se que houve um crescimento considerável do negócio nos últimos cinco anos, que gerou em torno de 100 mil reais de renda por ano para essas famílias. Porém, o número de empreendimentos regularizados ainda é baixo. A boa notícia é que a maioria dos empreendedores já participaram de algum processo de capacitação com os governos”, afirmou Edivan Carvalho, pesquisador e coordenador estadual do IPAM no Pará.

“Uma das questões fundamentais seria realizar o cadastramento das famílias que produzem açaí de modo que possam ter acesso a recursos como financiamento do governo e melhorar sua produção”, ressaltou Joelson da Cunha, representante da Associação de Moradores e Produtores Quilombolas de Guajará Miri.

Para Carlos Noronha, presidente da AVABEL (Associação dos Vendedores Artesanais de Açaí de Belém), o maior desafio do batedor de açaí é a destinação do resíduo. “Atualmente são desperdiçadas 600 mil toneladas de caroços por dia que poderiam gerar renda ao invés de ir para o lixo. Outro problema é o consumo de energia elétrica necessária para o tanque de branqueamento que elimina o Trypanosoma cruzi [protozoário que transmite a doença de Chagas]”. 

“O que nos dá a base da sustentabilidade é a cesta dos produtos da floresta, da sociobiodiversidade, como um todo, sem separar esses produtos. Não só o açaí como a castanha, o taperebá, as resinas, os cipós, os pescados, os mariscos… é preciso formular políticas atualizadas e contextualizadas com o modo de produzir dos atores sociais que vivem na e da floresta. A sustentabilidade é garantida pelo modo de viver e produzir dos povos tradicionais da Amazônia”, explicou José Ivanildo Gama Brilhante, Diretor do CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas).

Maria Lucimar Souza, diretora adjunta de Desenvolvimento Territorial do IPAM, falou sobre os próximos passos. “Será formado um grupo de trabalho que irá reunir todas essas contribuições relacionadas aos desafios como as proposições de soluções para a cadeia. Ao final, sistematizaremos um documento com essas recomendações que será entregue ao Governo do Estado, Governo Federal, à academia, com temas que a ciência ainda precisa se debruçar, às associações, cooperativas e demais atores que possuem algum papel na cadeia para garantir a sustentabilidade da cadeia de valor do Açaí no Estado do Pará.”

O seminário foi uma realização do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a SEDAP (Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca), a SEAF (Secretaria de Agricultura Familiar do Estado do Pará), o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e apoio da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e do Projeto Sustenta & Inova.

 

*Coordenadora de comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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