Lançado na COP30, documento revela como pontos de inflexão sociais já ameaçam Amazônia

14 de novembro de 2025 | COP30, Notícias

nov 14, 2025 | COP30, Notícias

Sara Leal*

Lançado hoje (14), na COP30, o documento orientador “Extremos climáticos: os Pontos de Inflexão Social na Amazônia” reúne recomendações políticas para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas no bioma e seus impactos na vida das pessoas.

O policy brief, produzido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), busca ser um marco para revelar, entender e responder aos pontos de inflexão social na Amazônia, principalmente aqueles aprofundados pelas mudanças do clima para promover a proteção dos territórios, da floresta e das pessoas através de adaptação justa e resiliência climática.

Durante o lançamento, no pavilhão Amazônia Hub, especialistas, lideranças indígenas e representantes do governo brasileiro alertaram que a Amazônia enfrenta não apenas riscos ecológicos de colapso, mas também pontos de não retorno sociais já em curso, provocados pela combinação entre mudanças climáticas, desigualdades históricas e ausência de políticas públicas eficazes em territórios vulneráveis.

Amazônia já vive um ponto de inflexão social

Principal autora do policy brief, Patricia Pinho, diretora adjunta de Pesquisa do IPAM, apresentou os resultados preliminares, fruto de oficinas participativas com as pessoas que vivem na floresta amazônica.

“Em muitas comunidades, as mudanças climáticas já rompem a estabilidade social antes mesmo do ecossistema entrar em colapso”, afirmou. Entre os impactos relatados por lideranças estão deslocamentos forçados, doenças, insegurança alimentar, violência, perda cultural e ansiedade coletiva provocada pela repetição de eventos extremos.

O estudo aponta que 65% da população indígena da região foi afetada por desastres climáticos compostos nas últimas duas décadas. Ao mesmo tempo, práticas locais lideradas por mulheres, jovens e organizações comunitárias — como monitoramento participativo e bioeconomia — já funcionam como sementes de transformação positiva, que podem ser escaladas com apoio adequado.

A urgência de quem vive no território

O líder indígena Francisco Piá, coordenador da Opirj (Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá), descreveu como as comunidades enfrentam, diariamente, as transformações aceleradas na floresta: secas e cheias bruscas, desaparecimento de espécies, maior incidência de incêndios e insegurança hídrica.

“Nossa ciência existe, nós sabemos nos adaptar. Mas sem condições mínimas, corremos riscos reais”, afirmou. Ele destacou que políticas ambientais e de adaptação tardam a chegar nas comunidades, enquanto pressões como estradas ilegais e queimadas se intensificam no entorno das terras indígenas.

Políticas de adaptação e justiça climática

Representando o governo federal, Inamara Melo, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, reforçou que o Brasil recolocou a adaptação climática como prioridade estratégica. O novo Plano Nacional de Adaptação chega à COP30 com 800 medidas, 300 metas e a participação de 25 ministérios, orientado pelo princípio da justiça climática.

“Adaptação é desenvolvimento. Estamos estruturando uma resposta nacional integrada, que precisa dialogar com Estados, municípios e com quem vive na linha de frente da crise climática”, disse. O programa Adapta Cidades já apoia 581 municípios e deve alcançar 2.000 até 2031.

*Coordenadora de Comunicação do IPAM



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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