por Mariana Abuchain*
Habitada há pelo menos cinco gerações por povos do alto Xingu, a gruta sagrada do Kamukuwaká, localizada no município de Paranatinga, em Mato Grosso, fica às margens do rio Batovi – um dos afluentes do rio Xingu. O local é considerado o grande “livro do conhecimento” para os Xinguanos, de onde acreditam vir os ensinamentos sobre seus rituais.
A caverna localizada na região costumava ser um espaço de ritos e tradições culturais da comunidade e, apesar de ser considerada um local histórico por povos indígenas do Xingu, o patrimônio não está no território demarcado. A gruta já foi alvo de vandalismo e depredação das gravuras sagradas pintadas por gerações passadas dos indígenas do Xingu e os atuais proprietários não permitem que o povo entre no território.
“Aqui no Alto Xingu, para nos tornarmos pajés, temos que passar por essa celebração: furar a orelha, cantar, rezar e toda a tradição que foi criada nesse local sagrado que foi frequentado por cinco gerações. Por isso ela é importante para nós. Lá tem muitas pinturas, músicas foram criadas lá, os pais iam para ensinar seus filhos a cantar e aprender a história do seu povo”, narra Pirathá Waurá, do povo Wauja, que vive na Aldeia Topepaweke.
Para preservar a tradição que acontece dentro da gruta, Pirathá Waurá, que é cineasta, fotógrafo, professor graduado em arte, linguagem e literatura, desenvolveu uma experiência em realidade virtual para que eles continuassem a visitar a gruta do Kamukuwaká, sítio arqueológico sagrado para o povo Xingu.
“Como o local está fora do nosso território e não temos acesso fácil, o único jeito é trazer a gruta para a aldeia através da realidade virtual para que os jovens mergulhem e conheçam a sua história por meio dessa tecnologia”, explica o cineasta.
Toda a experiência foi captada por Pirathá, que desenvolveu o projeto em parceria com a People’s Palace Projects, um centro de arte e pesquisa sem fins lucrativos, baseado na Universidade de Queen Mary em Londres. A aprovação do projeto em um edital na Inglaterra possibilitou que o cineasta colocasse o trabalho em prática. Com esse apoio financeiro, as aldeias Wauja foram equipadas com painéis solares e conectividade para treinamento dos indígenas.
Pirathá ficou encarregado da coordenação do projeto dentro da Aldeia Topepaweke e de realizar a ponte entre outras aldeias. Agora, mais de 700 indígenas podem ter acesso a esse conhecimento ancestral e a expectativa é de que a tecnologia possa ser compartilhada com outros 15 povos do Xingu. “A ideia de fazer esse projeto de realidade virtual é para que nosso povo entenda nossa história, então a gente pôde fazer do nosso jeito para devolver esse patrimônio para nossa aldeia”, finaliza.
Saiba mais sobre o projeto clicando aqui.
*Estagiária sob supervisão de Sara Raíra Leal