Por Luiza Melo*
Ao pensar em um jardim, pode surgir a ideia de grama verde e arbustos. Mas, por quê? Foi essa inquietação que a paisagista Marina Siqueira encontrou quando uma cliente lhe encomendou um projeto em que o Cerrado fosse predominante. Em busca de plantas nativas do bioma para concluir a proposta, Mariana percebeu que os viveiros não as produziam para esse tipo de uso.
A vontade de valorizar a beleza da vegetação cerratense só aumentou quando a paisagista se deu conta de que às formações savânicas e campestres costuma ser atribuído “pouco valor”. Foi então que criou a Jardins de Cerrado, em 2014, uma iniciativa que alia arquitetura, paisagismo e conservação. “O objetivo é valorizar essas paisagens e superar a ideia de que savanas são ambientes degradados. São importantes, diversos e muito belos”, destaca Mariana.
Casa Vila Rica, pioneira no projeto de implementação de um jardim com plantas do Cerrado (Foto: Joana França/Reprodução)
As plantas do Cerrado são introduzidas nos projetos de paisagismo de duas maneiras: por meio do plant hunting, que é a coleta de sementes em expedições para reprodução em viveiros, ou pela técnica de semeadura direta.
Para além da questão estética, o objetivo da iniciativa também é criar jardins que possibilitam a utilização de menos recursos hídricos, por ser uma vegetação adaptada à seca característica do bioma. O intuito, segundo Mariana, é inspirar um novo olhar para o próprio Cerrado e usar os jardins como meio de novas relações com esse bioma.
Jardim Piloto, localizado na rotatória entre as quadras 210/211 Norte, em Brasília (Foto: Jardins de Cerrado/Reprodução)
O Jardins de Cerrado atua lado a lado com parceiros e já está presente em diversos locais de Brasília. Mesmo com a alta demanda para jardins residenciais, os espaços públicos da cidade também recebem o trabalho de Mariana: o projeto Jardim Piloto é a implantação do primeiro jardim de Cerrado feito em uma rotatória viária de Brasília, na Escola Parque entre as quadras 210/211 Norte. A iniciativa do jardim público ganhará um longa-metragem com o mesmo nome, que acompanha a paisagista na elaboração do projeto paisagístico.
Mariana Siqueira (Foto: Fernanda Graciano/Reprodução)
Diante do cenário das mudanças climáticas, Mariana diz que a valorização dos biomas locais é uma forma de resgatar e conservar a biodiversidade. “Acredito que esse tipo de iniciativa tenha um futuro promissor, não apenas no Cerrado, mas em outras vegetações. Para enxergar nossos biomas onde quer que estejamos”, comenta.