Por Sara R. Leal¹
O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) apresentou para o público internacional, na segunda-feira (16/11), o projeto CONSERV, uma parceria com o EDF (Environmental Defense Fund) e com o Woodwell Climate Research Center. A exibição on-line fez parte da programação da London Climate Action Week (Semana de Ações Climáticas de Londres), evento que reúne, até sexta-feira (20/11), uma variedade de profissionais e organizações ligadas ao clima do mundo inteiro e que serve de preparação para o COP 26, que acontecerá em Glasgow no ano que vem.
Outra iniciativa apontada no evento foi a estratégia PCI (Produzir, Conservar, Incluir), do governo de Mato Grosso. Implementada no estado em 2016, a iniciativa busca conciliar o aumento na produção agropecuária com a conservação da vegetação nativa e inclusão social de pequenos produtores.
Abertura
Estreando o webinar, o diretor executivo do IPAM, André Guimarães, deu as boas-vindas e trouxe uma breve contextualização sobre a relação entre a preservação da floresta amazônica e o risco climático para a produção futura. “A Amazônia é uma peça fundamental, não só para a população que lá vive e para o desenvolvimento do Brasil, mas também para o mundo, quando se trata da mitigação das mudanças climáticas e do suprimento de alimentos para o planeta”, alertou.
Ainda no início do evento, foi exibido um vídeo do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, que falou sobre a capacidade de conservação do estado: “Temos grandes condições de aumentar a produção de alimentos nos próximos anos, mas fazendo isso de maneira sustentável (…), investindo em tecnologia, produtividade e cada vez mais em uma economia sustentável”.
Apresentação das iniciativas
O diretor executivo do Instituto PCI, Fernando Sampaio, apresentou os pontos mais importantes da estratégia. De acordo com Sampaio, a PCI estimula em Mato Grosso a preservação da vegetação nativa, a redução do desmatamento, a proteção dos meios de subsistência dos povos indígenas e a inclusão de pequenos agricultores no caminho do desenvolvimento econômico.
Até 2030, os membros da PCI pretendem ampliar as áreas de florestas plantadas em espaços já abertos no estado de 317 mil hectares para 800 mil hectares, além de compensar 1 milhão de hectares de área passível de desmatamento legal. “Podemos aumentar a produção existente nas áreas que já foram abertas e ocupadas através da intensificação da produção, conservando os ativos ambientais de Mato Grosso”, declarou Sampaio.
Logo depois, foi a vez de falar sobre o CONSERV, iniciativa lançada em outubro de 2020 para o público brasileiro. O pesquisador do IPAM e gestor do projeto, Marcelo Stabile, explicou o conceito do programa: “Trata-se de um mecanismo privado, de adesão voluntária, que compensa produtores na Amazônia Legal por manterem em suas propriedades áreas de vegetação nativa que têm permissão legal para serem desmatadas.”
Já em execução, o projeto opera inicialmente na cidade de Sapezal, em Mato Grosso. A previsão do IPAM, contudo, é chegar nos próximos meses a até 30 contratos em municípios pré-selecionados – uma extensão de pelo menos 20 mil hectares de conservação em áreas que não estão protegidas por lei.
Segundo Stabile, a ideia é reconhecer os produtores que estão conservando e ressaltar a importância da preservação para a mitigação das mudanças climáticas. “Somente em Mato Grosso há mais de 7 milhões de hectares de florestas que podem ser legalmente suprimidas. (…) é importante evitar o desmatamento dessas áreas para que tenhamos um clima que permita a agricultura e assegure a produção de alimentos no longo prazo”.
Painel de discussão
Após as apresentações, os especialistas discutiram os pontos mais relevantes sobre as iniciativas e sobre os temas relacionados a florestas tropicais. Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM, foi uma das debatedoras e reforçou que a agricultura do Brasil precisa manter suas matas. “Há uma sinergia entre a existência das florestas e o seu papel. São elas que prestam importantes serviços climáticos à plantação, como a chuva, por exemplo, que é fundamental para garantir que as pessoas não perderão o que cultivam, o que produzem.”
Endossando o discurso de Alencar, a diretora de Sustentabilidade, Comunicação e Compliance da Amaggi, Juliana Lopes, afirmou que não é possível produzir sem preservar. “Se pensarmos sobre o futuro, a conservação é o que garantirá todos os recursos que precisamos para o mundo. Portanto, não é possível imaginar uma produção que não leve em conta a conservação.”
Em seguida, o vice-presidente associado de Clima e Florestas do EDF, Ruben Lubowski, acrescentou que iniciativas como o CONSERV e a PCI são emergentes. “O governo de Mato Grosso nos explicou como a PCI está combatendo o desmatamento ilegal (…) ao mesmo tempo, precisamos de incentivos que vão além da lei, e isso é o que o CONSERV representa. Portanto, estes são modelos de como unir diferentes peças de uma forma coerente e também de como engajar as demais partes interessadas”, concluiu.
Por fim, os palestrantes convidados responderam perguntas da audiência sobre os projetos, como, por exemplo, formas de garantir que as florestas continuem sendo preservadas e como não criar incentivos negativos para os produtores.
¹Jornalista e analista de Comunicação no IPAM, sara.pereira@ipam.org.br