IMAC e IPAM ampliam diálogo sobre pecuária sustentável em Mato Grosso

16 de dezembro de 2022 | Notícias

dez 16, 2022 | Notícias

A construção de um diálogo para promover a pecuária, aliada à preservação ambiental, dominou os debates do seminário “Pecuária em MT – Desafios e soluções para a sustentabilidade da cadeia produtiva”, promovido pelo IMAC (Instituto Mato-Grossense da Carne) e o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), na quinta-feira (15), em Cuiabá.

O evento permitiu o fortalecimento de parcerias entre atores da cadeia produtiva como governo estadual, Secretária do Meio Ambiente de Mato Grosso, Ministério Público Federal, SEAF (Secretaria de Agricultura Familiar), Empaer (Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural), Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), frigoríficos, membros da sociedade civil, entre outros.

“O desafio é construir uma solução efetiva que dê a oportunidade de fortalecer o Brasil no mercado global, desenvolvendo o agronegócio, como fornecedor mundial de alimentos, de serviços ambientais, e que podem alancar novas áreas como a bioeconomia”, enfatizou o diretor de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do IPAM, Eugênio Pantoja.

O presidente do IMAC, Caio Penido, frisou que o debate é bem-vindo num cenário no qual a União Europeia proíbe a negociação de produtos relacionados ao desmatamento. “Existe uma agenda ganha-ganha. Temos ações de pagamento por serviços ambientais. A gente tem a oportunidade de usar as pastagens que são subutilizadas. Que país tem 66% do território preservado, que tem o Código Florestal? Temos a agenda de valorização e que tem o benefício climático do carbono”, pontuou.

Realidade regional 

O Mato Grosso se mostra estratégico na agenda da pecuária sustentável. Se fosse um país, o estado ocuparia a 7ª posição no ranking mundial de rebanho bovino. São 32,8 milhões de animais, o mais numeroso do país. O desafio é melhorar a qualidade de 12 milhões de hectares de pastagens degradadas e intensificar a produção e criar incentivos que considerem a parte comercial. “Somente baixando regras e regulamentação, o pecuarista não melhora sua produtividade para que não necessite abrir novas áreas”, salientou Bruno Andrade, diretor de operações do IMAC.

Paralelo a isso, o IMAC tem promovido o PREM (Programa de Reinserção e Monitoramento), que pretende recuperar 488 mil hectares de áreas desmatadas e reinserir no mercado 10 mil pecuaristas que tiveram áreas embargadas.

Sustentabilidade 

Para garantir a produção sustentável, o coordenador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) no Mato Grosso, Richard Smith, apontou como desafio criar soluções dialogadas também “da porteira para dentro”, aumentar a curva de produção com preservação ambiental e reduzir os impactos negativos da produção. “Atualmente, 28% das áreas agrícolas de um estudo do IPAM que inclui o Mato Grosso já não contam mais com um clima ideal para a agricultura. Se nada for feito existem projeções que 51% deixarão esse espaço ideal até 2030, e 71% até 2060”, enumerou.

O diretor executivo da estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir), Fernando Sampaio, defende focar no combate ao desmatamento ilegal, com compensação para cobrir parte dos déficits de reserva legal e criar incentivos econômicos para aqueles que estão ajudando a preservar áreas, além do que exige a lei (do Código Florestal). Além disso, a PCI busca também fortalecer os pequenos produtores da agricultura familiar e comunidades tradicionais e indígenas. “Quando a gente fala que não precisa desmatar para produzir, é porque temos espaço sobrando, como nas áreas de pastagens degradadas com aptidão agrícola”, enfatizou.

Pecuária de baixas emissões 

O analista sênior de políticas da Earth Innovation Institute, João Shimada, apresentou os acordos climáticos internacionais e concluiu que o Mato Grosso tem a oportunidade de ser um laboratório para o mundo porque a produção sustentável vai ajudar a cumprir a meta de redução de emissões do país. “As emissões não estão diminuindo. Estão aumentando. Se não houver um aumento da performance, não vamos conseguir ficar abaixo dos 2 graus. Pelo contrário, estão levando para 3.2, mais do que o dobro do previsto no acordo de Paris”, alertou.

O secretário-executivo da Sema (Secretaria de Meio Ambiente) do Estado, Alex Marega, afirmou que Mato Grosso está implantando o programa Carbono Neutro MT e pretende zerar as emissões até 2035, antecipando em 15 anos o compromisso pactuado em acordos internacionais. “Nosso foco é participação não só em comando e controle, mas criar mecanismo para criar valor para ativos ambientais”, adiantou.

Rastreabilidade 

O procurador Erich Masson, do MPF estadual, apresentou os esforços do projeto Carne Legal, que firmou acordos para exigir conduta socioambiental dos frigoríficos e avaliou que o mercado será cada vez mais exigente com a produção sustentável. “O próprio varejo já está se organizando para criar regras para dar informações para o consumidor de que aquela carne é ambientalmente correta, de forma a respeitar a legislação brasileira”, pontuou.

Representando o ponto de vista dos frigoríficos, o gerente de sustentabilidade da JBS, Alexandre Kavatti, apresentou os resultados do “Escritórios Verdes”, que auxiliam produtores para garantir uma produção sustentável que se adequem aos padrões das empresas. “A JBS não compra matérias-primas de fazendas envolvidas em desmatamento, com embargos ambientais, trabalho análogo à escravidão, localizadas em terras indígenas, unidades de conservação ou territórios quilombolas”, contou.

Regularização ambiental 

Desde 1995, o Mato Grosso vem trabalhando com a regularização de imóveis. Porém, nos últimos quatro anos, o trabalho foi intensificado, houve investimento em infraestrutura e a análise de CAR (Cadastro Ambiental Rural) se tornou mais eficiente, segundo o governo estadual. Foram 150 mil análises desde 2018, segundo a secretária-adjunta da SEMA, Luciane Bertinatto Copetti. “Estamos quebrando barreiras para deixar o processo mais transparente e eficiente”, declarou.

Representante dos pecuaristas no evento, Amado de Oliveira Filho, consultor técnico da Acrimat, fez um diagnóstico da realidade do campo e pediu um olhar mais atencioso das autoridades com soluções para os problemas, como a falta de recursos. “O pecuarista está descapitalizado. O crédito está restrito”, argumentou.



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Saiba mais em brasil.un.org/pt-br/sdgs.

Veja também

See also