Um estudo publicado na revista científica Journal of Insect Conservation avaliou as variações de comunidades de formigas em fragmentos de vegetação da zona de transição Cerrado-Amazônia (TCA) e constatou que espécies que habitam o solo são mais afetadas pela mudança temporal de seca e de chuva do que aquelas que vivem sobre a vegetação. Pesquisadores encontraram mais formigas de solo no período seco, o que indica que sofrem maior influência com a variação das chuvas.
Comunidades de formigas que vivem no solo representam grande parte da diversidade de formigas em florestas tropicais e a mudança climática pode ser especialmente prejudicial a elas, aponta a pesquisa. Isso porque formigas de solo têm seu habitat natural sob serrapilheira, folhas e galhos no chão, ambiente que fica protegido de variáveis climáticas e que, uma vez suprimido, expõe esses estratos ao clima. Já as que vivem nas árvores, habituadas à luminosidade e à alta temperatura, têm maior resistência.
“Formigas são bioindicadoras, isto é, de acordo com as características das comunidades que encontramos, podemos dizer se o ambiente está sofrendo algum impacto natural ou antrópico”, explica Filipe Arruda, pesquisador no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e um dos autores do artigo. “São também os indivíduos mais abudantes em áreas de floresta. Elas desenvolvem um papel essencial na estruturação de comunidades animais e vegetais, controlam possíveis pragas, dispersam sementes e moldam espécies que vão habitar diferentes locais.”
A TCA é conhecida como o maior ecótono do planeta, isto é, a maior área de transição entre comunidades biológicas distintas. Ela é composta por um mosaico de diferentes tipos de vegetação incluindo savanas, florestas tropicais e florestas ecotonais – estas formadas por elementos da Amazônia e do Cerrado, o que cria um ambiente único com características e organismos associados.
“Áreas de transição são ambientes importantes para entender a biodiversidade, apesar de alguns passarem por elevadas taxas de perda de habitat, como é o caso da transição Cerrado-Amazônia”, diz Arruda.
Para os pesquisadores autores do artigo, em uma parceria entre IPAM, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Federal de Viçosa e Universidade Estadual de Goiás, futuras práticas de conservação na TCA devem considerar atenção especial às formigas que vivem no solo devido ao agravamento da mudança climática e ao aumento da pressão antrópica na região.