Por Sara Leal*
A newsletter Um Grau e Meio, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), conversou com André Guimarães, diretor executivo do Instituto, sobre avanços e desafios da agenda ambiental em 2024, além de perspectivas para 2025.
Como você avalia a evolução da agenda ambiental ao longo de 2024?
2024 foi um ano de consolidação das ações públicas, especialmente das ações do governo federal sobre o desmatamento na Amazônia e agora, no final do ano, começou a ter um impacto no desmatamento do Cerrado.
O Brasil voltou à agenda – que foi interrompida durante o governo anterior – de forma mais integrada com os desafios globais. Agora, vemos a liderança do país. Com a condução brasileira no G20, por exemplo, conseguimos que os países acatassem dois temas que não são usuais: mudanças climáticas e combate à pobreza.
Apesar dessas boas notícias, foi um ano de impactos severos das mudanças climáticas. Vimos o episódio do Rio Grande do Sul que consternou o Brasil inteiro, com impacto social e econômico: o Estado é responsável por 15% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e teve 80% da sua economia afetada.
Vimos o fogo tomar conta do Cerrado, da Amazônia e de outros biomas brasileiros, um índice de incêndios florestais que a gente não via há muito tempo, se é que já vimos, um dia, neste volume.
Acho que um recado de 2024 é que, quando a gente tem um objetivo comum, conseguimos atingir. Mas temos que ser mais rápidos e eficientes no atingimento das metas climáticas estabelecidas pelo Brasil e pelos outros países. Isso nos coloca num desafio muito grande em relação à COP30 que vai acontecer em Belém no ano que vem.
De forma geral, foi um ano ambíguo, de pontos positivos, mas de alertas muito severos sobre o que nós vamos encontrar pela frente, especialmente com o impacto das mudanças climáticas.
Quais foram os principais focos da atuação do IPAM durante este ano?
O IPAM teve um ano muito profícuo em 2024. Levamos a nossa ciência para apoiar decisões governamentais. Hoje estamos começando a ver, por exemplo, algumas áreas protegidas serem criadas a partir do trabalho que o IPAM tem feito com as florestas públicas não destinadas, subsidiando dados para o governo federal.
Tivemos um papel central no atingimento dos objetivos de diversos Estados, como o governo do Pará, com a venda de créditos de carbono e ter a perspectiva, no ano que vem, de um ingresso de, potencialmente, 1 bilhão de reais para fazer frente aos desafios da redução do desmatamento no Estado.
Creio que o IPAM cumpriu um papel cidadão importante de informar a sociedade. Além de usarmos a ciência para poder tomar decisões, usamos a nossa ciência e capacidade de diálogo para informar a sociedade e explicar o que estava acontecendo com mudanças climáticas, secas excessivas, distúrbios, eventos extremos e, principalmente, com os incêndios e queimadas que a gente viu no ano passado.
Somos uma instituição que tem como objetivo principal gerar informação de qualidade para mudar a forma que as coisas são feitas, e eu acho que esse ano conseguimos atingir esse objetivo em larga escala, tanto em nível federal, estadual, quanto em nível privado.
A forma com que trabalhamos com os produtores rurais do CONSERV, por exemplo, fez com que um grupo de agricultores do Estado de Mato Grosso não só conhecessem e respeitassem o nosso trabalho, mas mudaram a forma de pensar.
Quais são os desafios do IPAM e da agenda ambiental para o ano que vem?
O ano que vem é um ano de Conferência do Clima no Brasil, na Amazônia, em Belém, a cidade onde o IPAM nasceu. Teremos um papel importante na COP30. Precisamos levar muitas das informações, das experiências e dos resultados dos nossos trabalhos em várias áreas que temos nos especializado.
A degradação florestal, por exemplo, é uma questão premente não só para o Brasil, mas para outros países tropicais como Indonésia, países da África, Tailândia etc. Temos um papel, ao longo de 2025, e, culminando na COP, de trazer esse diálogo da ciência da conservação, que estuda e analisa a degradação das florestas para um debate mais aprofundado e, principalmente, tentar trazer esse assunto para dentro da agenda climática. Nossa ciência tem gerado informações que vão ser necessárias para esse debate ao longo do ano.
Creio que também será um ano de muitas alianças estratégicas com outros países e com outras experiências fora do Brasil. A Amazônia abrirá as portas para o mundo e o IPAM tem que fazer o mesmo. Na COP de Baku já começamos a fazer isso. Tivemos dois ou três eventos onde pudemos dialogar com outros países como Indonésia, Congo, Gana, Tailândia, China, entre tantas outras nações do Sul Global.
Espero eu que algumas dessas guerras que nós estamos vendo estejam equacionadas e que a gente consiga baixar a temperatura das agressões que a humanidade tem feito a si própria para estabelecermos um ambiente mais harmônico para dialogar com vistas a atingir soluções para o clima.
Então, eu vejo o ano de 2005 como um ano muito internacional. Seja por conta da COP, dos desdobramentos do G20, da liderança do Brasil nos BRICS [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos].
A minha expectativa para 2025, mais especificamente para COP30, é que a gente consiga enxergar um horizonte em que a curva de emissões começa a inclinar para baixo. Infelizmente Baku não foi suficiente, longe disso, e a gente continua com uma curva de emissões apontando para cima. Creio que o grande papel de Belém para além de ser a COP da floresta e do Sul Global, é a COP que tem que indicar para a sociedade global que a gente consegue inclinar a curva de emissões fósseis para baixo, e esse será o grande desafio.
O IPAM tem um papel central nisso pois a redução de desmatamento é a nossa agenda principal e metade do problema do Brasil, que é o sexto maior emissor do mundo. Temos que continuar vocalizando esses desafios e, mais do que isso, influenciar os processos decisórios desde o nível local até o nível global. Esse será o nosso trabalho no ano que vem: um trabalho internacional em grande dimensão.
*Coordenadora de Comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br