Primeira apresentadora indígena brasileira usa voz para cobrir conflitos contra povos ancestrais do Brasil

14 de julho de 2025 | Notícias, Um Grau e Meio

jul 14, 2025 | Notícias, Um Grau e Meio

Maria Garcia*

 

Aos 28 anos, Luciane Kaxinawá já marcou a história do jornalismo brasileiro ao se tornar a primeira apresentadora indígena do país. Integrante do povo Kaxinawá, ela construiu sua carreira com passagens por veículos de comunicação como Vogue Brasil, CNN, Amazônia Real e Amazon Sat. Luciane aproveita o espaço de notoriedade, neste momento como integrante do time do Canal Futura, para trazer a realidade dos povos indígenas e jogar luz aos conflitos territoriais vivenciados por seu povo, que se localiza na fronteira entre o Estado do Acre e Peru.  

A conquista não veio sem duras penas para a jornalista que, em suas primeiras passagens na televisão, precisou apagar parte da sua herança ancestral que incluía o seu nome indígena. “Dentro do jornalismo, durante muitos anos, eu tive que entrar no padrão. Eu estava feliz em exercer a profissão, mas incompleta por não poder usar brincos, ornamentos e nem usar minha assinatura como queria”, disse Luciene durante sua apresentação na edição 2023 do Proteja Talks, promovido pela iniciativa Proteja 

 

 

Filha de uma mãe indígena e pai de criação não-indígena, morou até a infância com os pais na cidade de Porto Velho (RO). Sua mãe havia sido afastada da comunidade durante 12 anos e, sem contato com a sua língua e com seu território, não passou essa herança para a filha. A reconexão de Luciene com suas raízes ancestrais ocorreu a partir dos 10 anos, quando reencontrou os parentes em viagem ao Acre e ouviu, pela primeira vez, sua mãe conversando na língua materna com o primo que havia acabado de conhecer.  

Eu sou a primeira jornalista e apresentadora da TV brasileira, mas não quero ser a única. Eu quero abrir caminhos para que outros parentes possam ocupar esse lugar.

Luciane Kaxinawá, jornalista indígena

A característica da sua formação fez dela capaz de comunicar para diversos públicos e, assim, ser uma ponte para trocas de experiências e histórias. Ela leva vozes e narrativas amazônidas a espaços midiáticos que, até recentemente, confiavam essa missão apenas a jornalistas não-indígenas ou do eixo Rio-São Paulo. “Agora nós, amazônidas, estamos nos comunicando da forma como nós comunicamos, e não por meio de pessoas vindo de fora e que não conhecem nossa realidade, falando para nós sobre nós”, opinou Luciene.  

Luciene Kaxinawá já foi reconhecida pela 17ª edição Troféu Mulher Imprensa em 2023, prêmio concedido pelo Portal Imprensa na categoria da Região Norte, e pelo Prêmio Sim à Igualdade Racial, concedido pelo IDBR, na categoria Raça em Pauta.  

 

*Analista de Comunicação do IPAM

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