Por Lucas Guaraldo*
Unir produção agrícola e preservação ambiental não é só possível, como precisa ser visto como foco para a agricultura brasileira, segundo Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwell Climate Research Center. Para Rattis, é possível aumentar a produtividade das lavouras brasileiras, reduzindo seu impacto climático e protegendo a produção de variações no clima.
“As fazendas precisam ser vistas como unidades produtoras de água, de diversidade biológica, como sumidouros de carbonos e com mitigadores das mudanças climáticas locais. Tudo isso é possível porque todas essas coisas convergem em uma agricultura de alto rendimento e de baixo custo. Floresta em pé é sinônimo de um clima mais estável. O desmatamento no Brasil é um problema para quem quer produzir tanto para quem quer um ambiente saudável”, defende.
A pesquisadora destaca que o desmatamento é o principal responsável por mudanças no regime de chuvas e no aumento da temperatura. A chave, segundo Rattis, é destacar a relação direta entre floresta em pé e produtividade.
“Minha sugestão é que a gente tenha a floresta em pé como parte do conjunto de técnicas de manejo que a gente considera na agricultura regenerativa. Estou propondo que a gente tenha 100% de áreas florestais intocadas? Não, não é isso. Hoje a gente tem ciência o suficiente para desenhar paisagens a prova de mudanças climáticas que podem reduzir os impactos das secas e da variação de chuvas”
As declarações foram feitas durante a primeira reunião do ciclo de workshops sobre agricultura regenerativa no Brasil organizado pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Além dos impactos na produtividade, o evento busca expor os desafios, necessidades e oportunidades da agricultura regenerativa no Brasil. Ao todo, serão realizados três encontros virtuais entre agosto e setembro deste ano.
A primeira mesa de discussão também contou com a participação de Cleber Soares, secretário adjunto de Inovação e Tecnologia no Ministério da Agricultura; Moisés Savian, secretário de Governança Fundiária no Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Carlos Eduardo Cerri, professor da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo; e Pedro Freitas, pesquisador da Embrapa Solos (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Ao final dos encontros, será produzida uma nota técnica que poderá nortear e auxiliar os tomadores de decisão na construção de políticas públicas sobre o tema.
Desmatamento gera improdutividade
Em novembro de 2021, um estudo de autoria de Ludmila publicado na revista científica Nature Climate Change alertava para o limite climático da agricultura no Brasil. Durante o workshop, a pesquisadora reiterou a urgência de considerar as florestas como parte integral da produção agrícola brasileira.
“É preciso falar da relação entre mudanças climáticas locais e agricultura. Hoje, 30% das fazendas na fronteira agrícola Amazônia-Cerrado, no Mato Grosso, Goiás e Matopiba, já estão fora do ideal climático para a agricultura por conta das alterações no clima. Esses 30% vão virar 50% em 2030 e 70% em 2050 se a gente não fizer nada”, afirma.
Segundo Rattis, estar fora do ideal climático faz com que as áreas de cultivo fiquem mais vulneráveis a quebras de safra, baixa produtividade e empobrecimento acelerado do solo. A causa principal é o aumento no VPD (Déficit de Pressão de Vapor) causado pelo desmatamento e perturbações na vegetação nativa. A variável mede a umidade retirada da planta pela atmosfera e é um dos fatores decisivos para a produtividade das lavouras.
“Isso quer dizer que eles não produzem? Não, isso quer dizer que essas fazendas estão mais vulneráveis a eventos climáticos extremos e podem perder duas vezes mais que fazendas com um entorno estável e mais apto a mitigar as mudanças climáticas localmente. Não tem riqueza que venha da derrubada de árvores”, completa.
Jornalista no IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*