Evento em Santarém destaca a ciência produzida a partir de Unidades de Conservação

30 de abril de 2024 | Notícias

abr 30, 2024 | Notícias

Por Elias Serejo*

Integração e reflexão sobre as transformações no planeta deram o tom ao IV Seminário de Pesquisa da Floresta Nacional do Tapajós e II Seminário de Pesquisa da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, realizados entre os dias 22 e 26 de abril, em Santarém (PA). O evento reuniu  pesquisadores, técnicos e moradores das Unidades de Conservação da região nas instalações da UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará).

Apoiado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a integração entre os dois eventos, a comunidade científica e os habitantes dos territórios estudados foi batizada de “Puxirum de Saberes”, uma expressão local que representa ajuda mútua e reflete a essência do encontro: a colaboração e o intercâmbio de conhecimentos.

Os seminários contaram com uma programação diversificada, que incluiu desde mesas redondas sobre cadeias produtivas e agricultura familiar até minicursos sobre manejo de abelhas sem ferrão e produção audiovisual comunitária. Alcilene Magalhães Cardoso, pesquisadora do IPAM, discutiu a crise climática e o papel da ciência e das comunidades locais na mitigação de seus impactos.

Segundo Cardoso, é preciso partir para ações concretas contra as mudanças climáticas. “Eventos extremos, como secas e inundações, já estão afetando a biodiversidade e a segurança alimentar na região. A união de esforços entre universidades e comunidades ajuda a desenvolver estratégias que conservem o meio ambiente e proporcionem sustento através de atividades como o turismo de base comunitária e a agricultura sustentável”, argumentou.

Os seminários, inclusive, foram impactados pelos efeitos da passagem do El Niño no ano passado. “Essa ação deveria ter ocorrido em dezembro, mas trouxemos para abril por conta da seca extrema e dos incêndios florestais intensificados pela força do fenômeno”, explicou Bruno Delano Chaves do Nascimento, analista ambiental do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e chefe substituto da Floresta Nacional do Tapajós.

A seca dos rios no território, segundo ele, foi tema de diferentes feedbacks. “O retorno que tivemos dos comunitários foi fundamental para entender a eficácia das medidas adotadas e a necessidade de novas estratégias que não se limitassem a ações paliativas, como a distribuição de cestas básicas que foram feitas no ano passado”, destacou.

A necessidade de estratégias de adaptação frente aos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes foi tema recorrente nos debates. Os participantes apresentaram a necessidade de fortalecer as brigadas comunitárias e desenvolver outras atividades produtivas que possam garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade econômica das comunidades afetadas.

O seminário também serviu como um espaço para as comunidades expressarem a necessidade de maior participação no planejamento e execução das pesquisas científicas que ocorrem em territórios. “As pessoas querem estar envolvidas desde o início e precisam de uma devolutiva que vá além de relatórios e gráficos. Elas buscam um diálogo que esclareça como as pesquisas impactam diretamente suas vidas”, explicou Bruno.

Flona Tapajós

A Floresta Nacional do Tapajós é uma unidade de conservação federal. Possui 500 mil hectares e abrange os municípios de Aveiro, Belterra, Placas e Rurópolis, no Oeste do Estado do Pará. O objetivo da UC é o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. De acordo com o ICMBio, é uma das UCs mais pesquisadas do Brasil.

Resex Tapajós-Arapiuns

A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns é uma das maiores Unidades de Conservação no Brasil, com mais de 600 mil hectares. Também é a mais populosa do país, com quase cinco mil famílias e 23 mil habitantes vivendo em 72 comunidades. Os agrupamentos humanos nasceram de antigas vilas de missões religiosas e aldeias indígenas, que ao longo do tempo se misturaram com migrantes e colonos de diferentes origens. Seu modo de vida tradicional está baseado na prática do extrativismo, na agricultura familiar, na transmissão oral de saberes que explicam seus cuidados com a natureza e sua luta pelo território.

Integração

Além das sessões acadêmicas ocorridas durante o evento, o Puxirum celebrou o saber tradicional com apresentações de experiências e práticas locais pelos próprios moradores, proporcionando um diálogo enriquecedor entre o conhecimento científico e o popular. “Puxirum de Saberes” destacou a importância da ciência produzida a partir das Unidades de Conservação e reiterou o papel central das comunidades locais como co-produtoras de conhecimento e peças chave na gestão sustentável dos territórios da Amazônia.

Quer saber mais?

Acesse o perfil do evento no instagram: https://www.instagram.com/puxirumdesaberes/ 

*Analista de Comunicação do IPAM.



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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