De madeira a alimentos, a profusão de selos verdes no mercado confunde o consumidor. No Brasil, levantamento recente realizado pelas consultorias Unomarketing, Mob Consult e Ideia Sustentável apontou a existência de 600 selos verdes ou com atributos de sustentabilidade – grande parte é de selos colocados pelas próprias empresas, sem auditoria ou verificação independente.
Um outro estudo, internacional, reforça a ideia: o World Resources Institute (WRI), entidade com sede em Washington (EUA), mapeou a existência de 340 selos socioambientais em 42 países. Menos de um terço dos selos pesquisados monitora os reais impactos sociais e ambientais da cadeia produtiva.
Na definição da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a certificação ambiental atesta, por meio de uma marca inserida na embalagem, que determinado produto ou serviço apresenta menor impacto ambiental em relação a outros disponíveis no mercado. Mas a grande fonte de dúvidas para quem vai às compras é a confiabilidade dos selos. “Há uma grande quantidade de selos autodeclarados: eles não são auditados de maneira independente e contam apenas com a chancela da própria empresa que comercializa os produtos”, diz Ricardo Voltolini, da consultoria Ideia Sustentável.
Isso ocorre, em parte, porque não há no Brasil um órgão ou entidade que faça o papel de dar aval às certificações que existem no mercado. Entidades como a ABNT e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) são responsáveis pela emissão de alguns selos, como o Procel – de eficiência energética para eletrodomésticos. Já certificações conhecidas no mercado internacional, como FSC (manejo florestal) e Ecocert (orgânicos), passam por auditorias feitas por organismos independentes.
Ao mesmo tempo, a questão ambiental vem se tornando uma ferramenta de marketing importante para as empresas, que passam a usar os termos “eco”, “orgânico” ou “natural” para vender produtos. “Esse tipo de propaganda na embalagem mais confunde que orienta”, diz Voltolini. Para fugir das armadilhas, é preciso buscar informação. “O consumidor deve ler os rótulos com atenção, pesquisar, buscar referências”, diz. Ele explica que, embora o porcentual de consumidores brasileiros que levem em conta as questões socioambientais na hora de ir às compras seja pequeno – 21% -, a tendência de certificação ambiental é um fenômeno global.
Um exemplo é o Japão, onde existem mais de 3 mil produtos certificados à disposição do consumidor.
Tendência. O mercado para produtos verdes está longe de ser irrisório. Segundo dados do estudo A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês), realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e divulgado ontem em Londres, o mercado para produtos agrícolas certificados, que em 2008 estava orçado em mais de US$ 40 bilhões, alcançará US$ 210 bilhões em 2020.
De olho no consumidor mais consciente, empresas brasileiras de setores como cosméticos, têxteis, siderurgia, pneus reformados, gráficas e até de fraldas descartáveis estão buscando uma certificação ambiental mais padronizada. A ABNT tem um programa de certificação chamado Qualidade Ambiental, que, apesar de existir há 17 anos, só passou a receber pedidos das indústrias em 2009. As primeiras certificações verdes da ABNT devem ser emitidas ainda neste ano.
Segundo Alfredo Lobo, diretor de qualidade do Inmetro, o consumidor brasileiro já utiliza os selos como um fator de decisão de compra. Ele cita como principal exemplo o selo Procel, emitido pelo Inmetro. “Hoje, 78% dos consumidores levam o selo de economia de energia em conta na tomada de decisão de compra e 40% aceitariam pagar mais pelo produto com selo.”
Além de economia de energia, o Inmetro certifica produtos de origem florestal – selo Cerflor – e também alimentos, como frutas, dentro de critérios de sustentabilidade.
Carros. O Inmetro também avalia, com o Ibama, os critérios para a emissão de um selo verde para carros. A ideia, segundo Lobo, é unir, em uma única certificação, dados referentes ao consumo de combustível dos veículos e também as emissões de poluentes. “Seria uma espécie de Procel para carros”, explica. As primeiras reuniões entre os órgãos para discutir a proposta ocorrem neste mês.