Suellen Nunes*
Visão de futuro: esse foi o ponto-chave das discussões durante oficina realizada na manhã desta segunda-feira (14), na Casa Balaio, em Belém (PA), durante a Semana do Clima da Amazônia. A construção de uma base oficial de dados integrados dos nove estados que compõem o Consórcio da Amazônia, Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, é um dos pilares da Estratégia Amazônia 2050, que tem como objetivo traçar caminhos possíveis e sustentáveis para o futuro da região.
“A Estratégia Amazônia 2050 é uma unificação dos esforços dos nove estados da Amazônia Legal, construída a partir do trabalho das secretarias de planejamento. Trata-se de um mapeamento das principais iniciativas sociais, econômicas e ambientais em curso, com foco na construção de um novo rumo para o desenvolvimento da região, um rumo inclusivo, sustentável e baseado em uma visão de longo prazo. O documento que estamos elaborando é um exercício essencial: com os aprendizados e erros do passado, estamos redesenhando as necessidades do futuro. Mas isso só é possível com ações concretas no presente, por meio de um trabalho colaborativo entre os estados”, afirma Marcello Brito, secretário-executivo do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal.
Para Brito, o encontro fortalece o compromisso político e técnico com a estratégia. “A construção do documento para a COP30 já está em andamento desde o início do ano e será concluída no tempo certo. Um ponto que temos discutido é que, embora falemos muito sobre desenvolvimento sustentável, falamos pouco sobre infraestrutura, como portos, estradas e ferrovias. Essas estruturas são essenciais para a região, e o desafio é como realizá-las de forma inteligente, com o menor impacto possível”, completa.
Coordenado por uma rede multidisciplinar de pesquisadores, instituições e representantes de comunidades locais, o projeto visa sistematizar informações reais e atualizadas sobre ações, políticas públicas e indicadores socioambientais nos territórios que integram o Consórcio.
“A Estratégia Amazônia 2050″ nasceu dentro da Câmara Setorial de Planejamento e Gestão Estratégica do Consórcio da Amazônia, a partir de uma provocação feita pelo governo federal com a iniciativa Brasil 2050. Ao levantar os dados dos estados para contribuir com a visão regional do Ministério do Planejamento, percebemos que havia uma riqueza enorme de informações, ações e projetos que simplesmente não aparecem em nenhum documento de política pública federal. Foi então que tivemos a ideia de construir uma estratégia própria, que detalhasse, no nível do detalhe, tudo o que os estados vêm realizando na Amazônia”, explica Vanessa Duarte, diretora-executiva do Consórcio.
“Estamos trabalhando desde janeiro para consolidar um plano de longo prazo, que deve ser apresentado na COP30. Um exemplo da importância desse detalhamento foi um dado que chamou a atenção dos estados: o valor agregado da agropecuária ao PIB nominal da região aumentou, em média, 402%, dobrando sua participação na economia da Amazônia Legal. Isso não está documentado em lugar nenhum. A ideia da Estratégia é justamente essa: tornar visível o que está sendo feito, o que precisa ser feito e as soluções que já estão sendo construídas a partir da própria Amazônia”, finaliza.
Ao consolidar uma base robusta de dados regionais, a Estratégia Amazônia 2050 visa contribuir diretamente para o aprimoramento das políticas públicas e o planejamento de longo prazo da Amazônia Legal, ampliando a transparência e a capacidade de resposta dos estados frente às urgências socioambientais da região.
“Este evento foi organizado para que possamos ouvir os técnicos do grupo de trabalho de planejamento, que têm um papel central na construção da Estratégia Amazônia 2050. São eles que trazem a experiência acumulada do que está sendo desenvolvido nos estados. A ideia da estratégia não é criar novos compromissos ou iniciativas paralelas, mas dar visibilidade ao que já está sendo feito, integrando essas ações em uma visão comum e consolidando isso em um documento estratégico de longo prazo, alinhado aos compromissos nacionais”, destaca Clarisse Guerreiro, pesquisadora de políticas públicas do IPAM.
“Precisamos aprender a olhar mais para o futuro — por isso, o ‘2050’. Muitos dos planejamentos que fazemos são de curto ou médio prazo, mas é fundamental pensar em horizontes mais amplos, em estratégias de Estado, e não apenas de governo. Eu espero que esse momento fortaleça o engajamento dos técnicos envolvidos, que eles se reconheçam no processo e tomem para si a construção dessa estratégia, contribuindo ativamente para consolidá-la”, completa.
Oficina Estratégia Amazônia 2050
Para alinhar as visões dos nove estados que compõem o Consórcio em torno de um objetivo comum, o Consórcio Interestadual da Amazônia Legal realizou a Oficina Estratégia Amazônia 2050, com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). O encontro reuniu representantes das secretarias de planejamento estaduais, que participaram de dinâmicas em grupo para discutir e sistematizar as ações e prioridades já em curso na região.
A proposta da Estratégia Amazônia 2050 não é lançar novos compromissos ou metas paralelas, mas consolidar e dar visibilidade ao que já vem sendo realizado em cada estado. Ao reorganizar essas iniciativas sob uma visão integrada e de longo prazo, a estratégia pretende construir um documento único, que reflita os esforços coletivos em políticas públicas sustentáveis e que possa ser apresentado de forma coesa em eventos nacionais e internacionais, como a COP30.
*Analista de Comunicação do IPAM.
Foto de capa: Rafaelle Silva – SECOM/CAL
