Por Sara R. Leal¹
Foi realizado na última semana, em Belém, capital do Estado do Pará, o seminário “Pecuária do Futuro: Estratégia do Estado do Pará para mercado, rentabilidade econômica e compliance ESG (ambiental, social e governança)”.
O evento foi promovido pelo governo do Pará por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap/PA), da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PA), do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do estado do Pará (Fetagri).
O Seminário reuniu produtores rurais, representantes de frigoríficos, setores do mercado, organizações de produtores, além de técnicos do estado, bancos, academia e sociedade civil em geral. O objetivo foi contribuir para a elaboração de uma estratégia estadual de pecuária sustentável, com alta rentabilidade econômica, aliada a conservação ambiental de forma a possibilitar que o estado do Pará seja uma referência mundial em sustentabilidade na cadeia da pecuária de baixas emissões.
A partir do encontro, foi criado um comitê que reunirá os setores ligados à pecuária do Pará, e que dará início, a partir de janeiro 2022, à elaboração da estratégia, com seus componentes de visão, objetivos, atividades, resultados, metas e impactos, além do arranjo de governança e implementação que atenda as diferentes realidades das cadeias produtivas dos atores e setores envolvidos.
Busca por soluções
Segundo o secretário adjunto da Sedap/PA, Lucas Vieira, a pecuária representa uma cadeia de extrema relevância ao Estado do Pará. “Por isso, estamos idealizando projetos e fechando parcerias para que possamos aprimorar essa produção, seja na quantidade de animal por hectares, seja na cadeia como um todo. É preciso avançar no tema da rastreabilidade”.
De acordo com o secretário adjunto da Semas/PA, Raul Protázio Romão, a criação da estratégia faz parte do “Amazônia Agora” – plano de desenvolvimento social e econômico baseado na valorização de ativos ambientais no Pará. “Um dos seus pilares é o desenvolvimento econômico de baixo carbono e o aumento da produtividade e da renda de produtores rurais por meio da regularização ambiental e fundiária, do acesso a tecnologias e da Ater (assistência técnica rural). Portanto, o evento e a estratégia estão em sinergia completa com as premissas e objetivos do Plano”, ressaltou.
A mudança para um modelo de desenvolvimento mais sustentável no Estado, contudo, envolve não somente a economia do Pará, mas de todo o país, conforme afirmou o presidente do Iterpa, Bruno Kono. “Os seminários levam em conta uma série de elementos para a adoção de uma política pública concreta, que funcione na prática e que, consequentemente, gere resultados que beneficiem não só as pessoas da região, mas também atenda às agendas econômica, comercial, ambiental internacionais”.
Reforçando o potencial estratégico do Estado do Pará para o desenvolvimento de uma pecuária de baixas emissões, o presidente da Faepa, Carlos Xavier destacou que o Estado tem todas as condições para se tornar uma referência sobre desenvolvimento sustentável. “Devido às condições climáticas, hídricas e demais características do território, o Pará possui todo o potencial para seguir nesse caminho e mostrar para o mundo o que fazemos aqui. Mas para isso é preciso construir parcerias. A Faepa está à disposição para construir estas soluções de forma dialogada e estruturada”, destacou.
A implementação de uma pecuária sustentável, segundo a presidente da Fetagri, Ângela de Jesus, auxilia não só o meio ambiente, como melhora a condição de vida no campo. “O grande desafio hoje é sair da pecuária convencional, um processo de transição de médio a longo prazo. Quando o produtor se adequa a esse sistema de intensificação e muda a sua dinâmica de produção dentro da propriedade, começa a produzir mais e melhor”, explicou durante o seminário.
O diretor de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do IPAM, Eugênio Pantoja, acredita que o diálogo entre diferentes setores é crucial para buscar soluções que construam uma pecuária sustentável de baixas emissões no Pará e que seja conectada aos mercados nacional e global. “O Estado possui um grande potencial para, efetivamente, transformar sua cadeia em pecuária de ponta e extremamente sustentável para atender a todos os critérios e requisitos que são exigidos no mercado mundial. Estamos aqui para ajudar a desenvolver esse processo”.
Tecnologias, aliadas da sustentabilidade
Para o chefe geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, o caminho para essa transformação perpassa pelas tecnologias já disponíveis. “Hoje em dia ofertamos uma série de alternativas que chamamos de poupa-terra, capazes de impulsionar o modelo sustentável. Dentre elas podemos destacar, por exemplo, o Sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta – ILPF, que mantém a biodiversidade”.
Manoel Messias, agricultor familiar de Pacajá que trabalha há anos com a cadeia da pecuária, busca sempre inovar em sua propriedade e, por isso, implementou o sistema ILPF. “Foi uma forma que encontrei de recuperar algumas áreas, unindo os sistemas produtivos, onde um subsidia o outro”, explicou. Para o agricultor, debates como esse, promovido pelo seminário, auxiliam os produtores a conhecerem novos mecanismos de produção e a pensar no futuro da cadeia. “Isso nos estimula a cada vez mais unir o útil ao agradável: produzir e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente”.
A diretora adjunta de Desenvolvimento Territorial do IPAM, Lucimar Souza explicou que, considerando o número de propriedades e de pessoas envolvidas na cadeia da pecuária, a estratégia irá reunir informações e pensar, em uma perspectiva futura, quais são os desafios que circundam o setor. “A partir desse levantamento, serão propostas soluções que subsidiem a formulação de novas políticas públicas, programas e projetos direcionados ao crescimento da pecuária com sustentabilidade”.
Como seguimento, em janeiro de 2022, será elaborada uma agenda de trabalho para a elaboração da estratégia, integrando os outros atores, setores, órgãos públicos e pecuaristas.
O seminário contou com o apoio do projeto “Novabov: Sustentabilidade da Cria ao Bife”, idealizado pelo IPAM com intuito de estimular a regularização ambiental e o aumento da produção bovina sem prejuízo ao meio ambiente, colaborando para a sustentabilidade da cadeia da pecuária a longo prazo, com foco em mercado, rentabilidade econômica e compliance ESG na Amazônia Legal.
¹Jornalista e analista de Comunicação no IPAM, sara.pereira@ipam.org.br