O primeiro episódio da série OCAA Webinários (Observatório de Comércio e Ambiente na Amazônia) foi ao ar na última sexta-feira (19) aprofundando o debate sobre as possíveis consequências do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia para a floresta amazônica. O documento, assinado em 2019, após duas décadas de negociações, ainda precisa ser ratificado pelos 31 Estados envolvidos para entrar em vigor. Questões ambientais que envolvem a Amazônia estão entre os principais entraves para sua confirmação.
O programa debateu dois estudos sobre o tema, que chegaram a conclusões diferentes sobre a relação desflorestamento e desenvolvimento econômico — Is the EU Mercosur Agreement Deforestation Proof?, publicado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), e Sustainability Impact Assessment, da London School of Economics.
Conforme destacou a especialista sênior em análise ambiental da universidade britânica, Stefania Lovo, entre 2003 e 2012, houve uma queda no desmatamento no Brasil. No período seguinte, de 2012 a 2018, foi registrado um leve aumento, enquanto em 2019, o país teve um “aumento significativo” em áreas devastadas.
Ela destacou que a queda foi uma resposta a iniciativas politicas apropriadas e defendeu evidências de que o aumento na produção de soja e carne não está necessariamente atrelado à perdas ambientais.
Lovo salientou que o acordo deve aumentar o crescimento do setor agrícola e que o futuro do meio ambiente no Brasil depende mais de políticas públicas do que do acordo em si. A pesquisadora rebateu críticas de que o país poderia afrouxar regras de sustentabilidade. “Sem o acordo, como seria? Ficaria melhor?”, indagou.
Por outro ângulo
Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, uma das organizações membro do OCAA, apresentou o estudo Is the EU Mercosur Agreement Deforestation Proof.
Ele destacou um levantamento que observou aumento significativo no desmatamento em 189 países, três anos após acordos comerciais internacionais serem firmados e entrarem em vigor. O estudo traça uma geografia da perda ambiental, avaliando diferentes cenários e a elasticidade comercial dos produtos comercializados nessas regiões.
Cauteloso sobre os desdobramentos do pacto comercial, Barreto afirmou que “de fato, o Brasil poderia produzir sem desmatar”. Ele acrescentou, porém, que as atuais condições políticas do país indicam um risco real de um efeito contrário, produzindo um aumento no desmatamento.
O webinário foi mediado pelo coordenador de comunicação do Observatório do Clima, Claudio Angelo, e pode ser acessado, na íntegra, no canal do OCAA no Youtube.
Para mais estudos como esses e para acompanhar o debate sobre comércio e Amazônia, conheça o site do OCAA.