*Por Bibiana Alcântara Garrido
Diretora adjunta de pesquisa no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Patrícia Pinho participou de evento sobre a Amazônia na Cúpula de Ciências da 78a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira (15). O “Amazon Day: Science for the Amazon” foi organizado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
“A sociobiodiversidade é um fator muito importante para a gente conseguir pensar na proteção e no combate à crise climática. Mas, globalmente tem sido esquecido esse tecido social que também é vulnerável a essas crises. Muito se fala da Amazônia como grande solução, mas muito se esquece desse ponto de não retorno que é inclusive social”, ressaltou a diretora no quarto painel do dia, com o tema de sociobiodiversidade e mudanças climáticas.
Também participaram do painel: Eduardo Neves, professor de Arqueologia e diretor no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo; e Vanda Wioto, educadora política e ativista pelos direitos dos povos indígenas, liderança indígena na Concertação pela Amazônia. A mediação foi de Adalberto Luís Val, pesquisador e professor no INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
Autora-líder no relatório especial do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) sobre o superaquecimento global de 1,5°C e seus impactos, Patrícia Pinho comentou o papel da Amazônia no equilíbrio do clima da Terra.
“A Amazônia é a primeira razão para se preocupar com as mudanças climáticas, segundo o IPCC. Junto com o Ártico, ela é altamente suscetível ao aumento das temperaturas globais. Então, obviamente, a redução de emissões é crucial para a sobrevivência dessa floresta. Quando a gente pensa que 20% da Amazônia já foi desmatada, e que em torno de 38% está degradada, vemos que ela já perdeu as funcionalidades que exercia na regulação climática, na biodiversidade, em serviços ecossistêmicos múltiplos que têm diretamente impacto ou influência na segurança hídrica, alimentar e nas populações locais e globais”, disse.
Para além da emergência climática, outras duas crises foram citadas pelo mediador: a crise da biodiversidade e a crise social. “São crises, paradoxalmente, tratadas de forma independente. Nós temos a COP do clima, que vai acontecer agora, e a COP da biodiversidade em outro lugar. Acho que está na hora de começar a pensar numa integração, porque as três crises estão, de certa forma, interconectadas”.
A diretora adjunta no IPAM falou das responsabilidades do Brasil e do mundo na manutenção da floresta para novos e possíveis futuros.
“O Brasil tem uma lição de casa de proteger e evitar que essa floresta continue sendo desgastada, mas também tem a parte da ação global de os países reduzirem a emissão de gases do efeito estufa para podermos ter uma chance, até mesmo de alavancar a bioeconomia para manter a floresta e os povos de uma maneira vibrante”, concluiu Pinho.
Vanda Wioto lembrou que sem as terras indígenas não há vida, pois essas áreas guardam grandes porções de vegetação nativa na Amazônia e são as que mais protegem o bioma. A educadora também falou sobre a necessidade de olhar para outros ecossistemas brasileiros, como o Cerrado.
“As terras indígenas são fundamentais para o enfrentamento às mudanças climáticas, com a maior floresta viva. Sem elas, não há vida para mim, nem para o meu povo, nem para a humanidade. Mas não é só a floresta que precisa ser cuidada: existe um colapso no Cerrado, na Caatinga, nos Pampas. Se a gente não olhar para esses lugares, não consegue manter a Amazônia. Eles estão conectados”, afirmou.
Eduardo Neves complementou a discussão com um alerta: seja no enfrentamento às mudanças climáticas ou na tomada de decisões socioambientais, é preciso aprender com erros do passado e priorizar as ciências e vozes amazônidas na busca de soluções.
“A Amazônia é o que ela é hoje por causa da ação sofisticada de criação das paisagens feita pelos povos indígenas”, comentou o professor. “Uma ciência que não foi forjada a partir dos contextos amazônicos não vai funcionar, porque seria baseada em uma maneira de estar no mundo que é totalmente diferente. Olhando para a história profunda da arqueologia, e escutando povos indígenas falando sobre isso, é fundamental aprender com os erros que a gente cometeu no passado, porque se a gente continuar reproduzindo esses erros, vai ser mais um esforço que pode gerar mais destruição”.
A FAPESP foi convidada para centralizar a discussão sobre a Amazônia na Assembleia da ONU, que começou em 12 de setembro e vai até o dia 29 do mesmo mês. As discussões são voltadas para a colaboração e a produção científica internacional como formas de contribuir para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
*Jornalista de ciência no IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br