Por Bibiana Alcântara Garrido*
Valderli Piontekowski é desenvolvedor do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e teve o desafio de, em 2014, criar o SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena). Dois anos depois, embarcou em mais uma missão: tirar do papel o primeiro aplicativo de celular desenvolvido na instituição, o ACI (Alerta Clima Indígena).
As duas ferramentas funcionam de maneira complementar e foram criadas em parceria com entidades como a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), o CIR (Conselho Indígena de Roraima) e o Instituto Raoni.
O SOMAI serve para visualizar diversos dados da Amazônia brasileira, com foco nas terras indígenas do bioma. Exemplos são informações sobre ameaças de incêndios, de desmatamento, chuvas, seca, tipos de vegetação, ocupação humana, registros de CAR (Cadastro Ambiental Rural) e empreendimentos.
Enquanto isso, o ACI serve para a coleta de dados em campo, sem a necessidade de internet. Com o aplicativo, as pessoas usuárias podem inserir alertas – com a localização por GPS – de violações nos territórios, acrescentando fotos, vídeos, textos ou áudios. Também é possível medir áreas, distâncias e gravar trajetos. Tudo o que é coletado em campo com o ACI fica automaticamente sincronizado com a plataforma assim que se estabelece uma conexão.
Organizações realizam cursos para uso da plataforma e do aplicativo de monitoramento dos territórios (Lucas Guaraldo/IPAM)
Os avanços da tecnologia nos dez anos do SOMAI, bem como os desafios, aprendizados e conquistas da iniciativa no período, são tema de entrevista na Um Grau e Meio.
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Como foi o começo do SOMAI?
Não tinha criado nada antes neste sentido. Eu estava trabalhando em gráficos, coisas interativas, aí pensamos em fazer uma plataforma focada nos povos e territórios indígenas. Falei ‘beleza, vamos encarar este desafio’.
Até então, era só uma plataforma na web, depois surgiu a ideia do aplicativo. A gente já tinha o plano: era um projeto em que você inscrevia sua ideia para a Google e ganharia o recurso para executar, no fim, ganhamos.
Desenvolver o ACI foi um outro desafio gigantesco, pois nunca tinha feito aplicativo na minha vida. Ainda tinha a questão que era para funcionar offline, de forma que as pessoas indígenas pudessem usar em campo. Fui procurar como fazer isso deu certo!
O que mudou de 2014 para cá?
A primeira versão do ACI, por exemplo, não armazenava dados por questão de segurança das pessoas no território. Com a Lei Geral de Proteção de Dados, aprimoramos a proteção no aplicativo, incluímos protocolos para a visualização e coleta das informações.
É uma das ferramentas que eu gosto muito até hoje de olhar e ver que, em dez anos, evoluímos bastante em cima disso. Valeu a pena o esforço no início.
Quais foram os aprendizados e as conquistas neste período?
A gente ‘penou’ no começo por conta dos dados. Foram muitos testes para ter um dado leve, que baixasse rápido. Estávamos sempre otimizando para que a pessoa pudesse acessar de onde estivesse, mesmo com conexão de internet limitada. Todo dia a gente está aprendendo, até hoje.
Isso também foi um aprendizado: acompanhar rotineiramente a tecnologia para não perder o foco, senão você fica pra trás. É bem desafiador.
Em muitas reuniões temos o retorno de que o pessoal gosta muito do aplicativo, que facilita bastante. Acho que é uma conquista bem legal. A principal é ver o pessoal usando. Cada vez mais a gente pensa em tentar fazer aquilo mesmo que as pessoas querem, porque não adianta nada desenvolver algo se não é o que estão precisando.
O que planeja para o futuro do SOMAI e do ACI?
Sempre vai ter como melhorar. A gente ainda tem que ajustar a parte do trajeto dentro do aplicativo, por exemplo. Outra questão é o desafio com os celulares, porque a gente tem um problema de funcionar em alguns aparelhos e não em outros, então, precisamos resolver isso. Como desenvolver para que facilite o acesso… porque acaba sendo complicado, tanto para quem desenvolve, quanto para quem quer usar o app. Às vezes tem a ver com Android desatualizado, por exemplo. Isso acaba saindo do nosso controle, mas não deixa de ser algo que a gente busca melhorar.
Outra coisa é que a gente se preocupa, quando vai desenvolver, é com o tamanho das informações. Porque os dados que você acessa estão vindo de um servidor. Se desenvolvemos algo que é muito pesado, vai demorar para abrir. Vamos dizer que é um painel de imagens e cada uma tem 30 megas, isso não vai carregar, menos ainda se a pessoa tiver uma internet lenta.
Então, a gente sempre preocupa com a quantidade de megas, para abrir rápido. Uma opção é reduzir a resolução da imagem, que já melhora bastante a velocidade. Também estamos melhorando a parte dos mapas, para carregar mais rápido. São coisas que facilitam a experiência do usuário final.
Jornalista de ciência do IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br
Foto de capa: Arquivo/Reprodução