Com mais de 60 sítios arqueológicos identificados, o projeto Amazônia Revelada: Mapeando Legados Culturais ajuda a remontar a história da parcela brasileira do bioma ao aliar pesquisas arqueológicas aos conhecimentos tradicionais dos povos da floresta.
O projeto recupera registros arqueológicos de populações que ocupam a Amazônia brasileira há mais de 12 mil anos. Com isso, adiciona uma nova camada de proteção para o bioma, já que sítios arqueológicos são considerados bens culturais que devem ser protegidos pelo poder público no Brasil, sob a guarda do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Duas estratégias complementares são colocadas em prática para identificar os sítios arqueológicos: sobrevoos que registram modelos tridimensionais da superfície da terra com a tecnologia LiDAR – sigla em inglês para Light Detection and Ranging (detecção de luz e distância); e levantamentos realizados por pesquisadores locais, pertencentes aos povos indígenas e tradicionais da região.
“Ao fazer seus assentamentos, esses povos da Amazônia antiga deixaram uma espécie de digital humana que está presente na floresta, na terra e até mesmo na água”, explica Carlos Augusto da Silva, arqueólogo indígena da UFA (Universidade Federal do Amazonas), em Manaus, um dos pesquisadores do Amazônia Revelada desde a sua concepção.
Conhecido como Dr. Tijolo, o pesquisador afirma que além de fragmentos cerâmicos, foram encontradas evidências de que esses povos já praticavam uma forma primitiva de bioeconomia e economia circular, baseada na troca de sementes e no manejo sustentável da floresta.
“Espécies vegetais como castanheira, preciosa, açaí, cacau, pupunha e bacaba parecem ter sido plantadas e manejadas por essas populações. Também encontramos solos de terra preta [ricos em material orgânico e fértil], que indicam ocupações humanas duradouras e manejo intencional do ambiente”, conta.
As escavações recentes ocorreram no município de Altamira (PA), nas margens dos rios Riozinho e Iriri, afluentes do Xingu, onde foram identificados quatro sítios arqueológicos monumentais.
O projeto também desenvolve uma vertente educativa, com atividades no laboratório de arqueologia na UFA e em escolas de ensino fundamental e médio. “Vejo esse conhecimento como uma espécie de semente, como a da castanha, que com saúde leva essa sabedoria”, completa Tijolo.