Corte de emissões deve ser 34 vezes maior que as emissões por desmatamento

21 de novembro de 2025 | COP30, Notícias

nov 21, 2025 | COP30, Notícias

27,9 gigatoneladas de gás carbônico equivalente, ou 34 vezes o desmatamento brasileiro em 2024: essa é a lacuna entre a necessidade de redução de emissões globais para impedir que a temperatura média global ultrapasse 1,5º C e as metas de redução de emissões internacionais apresentadas até o momento. Cálculo feito por Barbara Zimbres, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), expõe déficit de ambição de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Resposta às metas está em discussão na COP30 (30ª Conferência das Partes).

No Brasil o desmatamento é um dos principais contribuidores para emissões brasileiras — correspondendo a 42% delas — mas sozinha, a redução do desmatamento do país não resolve a questão climática. Segundo o Acordo de Paris, países de todo o mundo devem contribuir para a redução de emissões por meio das NDCs, metas climáticas devem corresponder à necessidade do planeta de impedir o aumento da temperatura. 123 das 197 NDCs já foram apresentadas à UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), mas Zimbres explica que as metas são insuficientes para conter aquecimento.

“O problema maior é que as NDCs até agora apresentadas representam um aumento de ambição ínfimo em relação às NDCs anteriores, de apenas 3,4 gigatoneladas de gás carbônico equivalente, no total global. Como os maiores emissores já entregaram suas NDCs, não se espera uma grande mudança nesse quadro com a entrega das que ainda faltam. Não é por menos que o PNUMA [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente], no Emissions Gap Report, considera a meta de 1,5°C enterrada. Com as NDCs até agora apresentadas, estamos no caminho para um mundo até 2,3 a 2,5°C mais quente no final do século. Para mudar esse cenário os países precisam aumentar a ambição”, pontua a pesquisadora.

Fora da agenda oficial de negociações da COP30, a resposta ao relatório síntese de emissões foi discutida em consultas presidenciais e ainda não obteve consenso durante a Conferência. Na sexta-feira (21), a presidência da COP30 publicou rascunho indicando possíveis soluções, documento relembra que países podem ajustar suas NDCs à ambição necessária em qualquer momento.

Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM, ressalta a importância de maior comprometimento com diminuição de emissões para a vida.

“O mundo precisa de mais ambição. Os países através dos seus esforços para redução das emissões dos gases de efeito estufa têm de ser mais ambiciosos. Porque, como estamos hoje, estamos perdendo o ‘habite-se’ do planeta. E ao perder esse ‘habite-se’ do planeta, certamente aqueles que têm menos é que sofrerão mais. Portanto, é uma questão também de justiça e de fundamental respeito ao direito de viver. É disso que estamos falando no final do dia. É preciso continuar garantindo o direito básico à vida de cada um que habita esse planeta”, expõe.

Meta brasileira

Dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa), iniciativa do IPAM, apontam que país precisa ajustar a trajetória para cumprir meta de redução de gases apresentada na COP29. As emissões brasileiras deviam ter caído 9% a mais que atual queda, para se alinhar a trajetória de redução entre 59% a 67% até 2035. Apenas o setor de MUT (Mudança de Uso da Terra e Florestas) reduziu suas emissões, Zimbres explica que outros setores também precisam contribuir.

“No Brasil, o controle recente do desmatamento tem se mostrado o maior trunfo do governo em seus compromissos climáticos. Mas segundo o SEEG, a eliminação do desmatamento — que diga-se de passagem, ainda não foi atingida —, não será suficiente para o atingimento da meta brasileira e não pode ser o único foco do governo. Será necessário trabalhar pela rápida transição energética e pela redução das emissões do setor agropecuário, além de combater efetivamente a degradação dos biomas brasileiros”, relata.

A NDC brasileira também se compromete a zerar o desmatamento até 2030. Ainda que represente um salto de ambição em relação à meta anterior, a meta não se adequa às necessidades de diminuição de emissões globais, como a maioria dos países.

Jornalista do IPAM karina.sousa@ipam.org.br*

 



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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