COP30: o papel da Justiça Climática nas decisões globais

30 de outubro de 2025 | COP30, Notícias

out 30, 2025 | COP30, Notícias

Por Suellen Nunes*

As mudanças climáticas estão entre os maiores desafios do século XXI, transformando paisagens, ecossistemas e vidas ao redor do mundo. Mas os impactos desse fenômeno não atingem todos de forma igual. Algumas comunidades, mesmo tendo contribuído pouco historicamente para o aumento das emissões globais de gases do efeito estufa, enfrentam efeitos mais severos como enchentes, secas extremas, perda de biodiversidade, além de ameaças à segurança alimentar, à saúde e aos modos de vida. É nesse cenário que se insere o conceito de justiça climática.

O princípio da justiça climática reconhece essas desigualdades e defende que as respostas à crise ambiental sejam justas, inclusivas e equitativas. Reunindo dimensões ambientais, sociais e econômicas, com o intuito de garantir políticas de mitigação e adaptação para que todas as vozes tenham espaço na construção de soluções para o clima.

Na COP30, que será realizada em Belém do Pará, em novembro, a discussão sobre justiça climática ganha destaque, reforçando que enfrentar a crise exige soluções equilibradas.

Em agosto de 2025, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou por meio de uma carta presidencial, que o evento a ser realizado em Belém será um “momento de virada” para pessoas historicamente marginalizadas e em situação de vulnerabilidade.

O embaixador destacou, ainda, que a ação climática não é apenas uma questão científica ou técnica, mas um desafio humano. A carta menciona que trazer a COP30 ao coração da Amazônia significa dar espaço aos vulneráveis como líderes genuínos e que estes devem ocupar o centro da tomada de decisão global.

“As assimetrias das mudanças climáticas requerem uma lente de justiça climática para tratar os riscos, sobretudo entre aqueles que menos contribuíram historicamente para as emissões de gases de efeito estufa e que estão sendo negativamente impactados por essas mudanças. Essas assimetrias se manifestam entre o Norte Global e o Sul Global, nos impactos desiguais entre países, e também dentro deles, por meio das interseccionalidades de gênero, etnia, renda e idade”, explica Patrícia Pinho, diretora adjunta de Ciência do IPAM.
Para ela, no caso da Amazônia, os riscos mais expressivos e negativos recaem sobre os povos indígenas e as comunidades tradicionais. “Para uma resiliência global, na qual a Amazônia é central, proteger e apoiar as populações originárias é a verdadeira ação climática global”, complementa Pinho.

Da desigualdade ao debate global

O movimento internacional por justiça climática ganhou força a partir da criação da rede ‘Stop Climate Chaos Coalition’, que se destacou por sua atuação e militância junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Desde 2007, a rede reunia 59 organizações envolvidas em temas como comércio internacional justo, alívio da pobreza, promoção do desenvolvimento e conservação ambiental, unindo forças em torno da defesa de soluções climáticas mais justas e equitativas.

O conceito se fortaleceu a partir dos anos 2000, impulsionado por movimentos sociais e organizações do Sul Global, que denunciaram as desigualdades na forma como países e comunidades enfrentam a crise climática.
Políticas climáticas justas

Um marco histórico foi o manifesto “Greenhouse Gangsters vs. Climate Justice”, publicado em 1999, que denunciava grandes empresas responsáveis por 80% das emissões de CO₂ e chamava atenção para a necessidade de uma abordagem mais justa e igualitária nas políticas climáticas.

Nos anos seguintes, a justiça climática se consolidou como um movimento global, impulsionado por jovens ativistas, como Greta Thunberg, e organizações da sociedade civil mundial.

Analista de comunicação do IPAM*.

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