Por Lucas Guaraldo*
Apoio aos agricultores familiares e celebração da importância do setor para o enfrentamento da crise climática foram o destaque do primeiro dia do “Fórum Internacional da Agricultura Familiar e Comunidades Tradicionais” durante a COP30, entre os dias 13 e 17 de novembro, em Belém. O evento busca encontrar caminhos para potencializar o setor e proteger agricultores das alterações no clima e dificuldades de financiamento.
O fórum foi organizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade e a Secretaria de Agricultura Familiar do Estado do Pará. São parceiros: Hydro, Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), Fetraf (Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar do Brasil), CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), Adepará (Agência de Defesa Agropecuária do Pará), Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e Malungu.
“A COP da verdade é feita aqui. A agricultura familiar tem a solução para o clima do planeta. Isso tem que ser claramente dito e evidenciado. A produção familiar traz alimentos, e isso tem que ser dito sempre, mas ela traz também conservação, proteção das florestas, água. Enquanto o mundo todo sofre com secas, escassez de alimentos e dificuldade de produção e escoamento, a agricultura familiar tem que ser vista como o berço das soluções para esses problemas”, celebra André Guimarães, diretor executivo do IPAM e Enviado Especial da presidência da COP30 para a Sociedade Civil.
Práticas sustentáveis no campo, como a implementação de sistemas agroflorestais, extrativismo de produtos da floresta e produção conforme os fluxos naturais da floresta, e práticas recorrentes na agricultura familiar foram apontadas como soluções para conciliar produção e conservação em grande escala. As práticas também são fundamentais para a adaptação climática no campo, criando paisagens mais resilientes aos efeitos extremos das mudanças climáticas.
“São 14 painéis apresentando iniciativas de diversos países e continentes e liderados por agricultores familiares e comunidades tradicionais. Queremos mostrar como os pequenos produtores e coletivos podem contribuir com o debate da transição climática, a produção de alimentos e a segurança alimentar no Sul Global”, destacou Lucimar Souza, diretora de Desenvolvimento Territorial do IPAM e uma das organizadoras do evento.
A mesa de abertura do fórum também discutiu a criação de sistemas de apoio e financiamento que sejam capazes de manter a população local vivendo na floresta e protegendo os serviços ecossistêmicos ao mesmo tempo que garante qualidade de vida. Para Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil, o apoio à população amazônica não pode ser visto como uma agenda à parte da conservação do bioma, destacando que desafios na distribuição de renda e do desenvolvimento social são as raízes de problemas como o desmatamento e o garimpo.
“Quando pensamos o tema do meio ambiente, temos que pensar nos 30 milhões de brasileiros e brasileiras que vivem na Amazônia. Nós não podemos ter uma visão de preservação que não pense no desenvolvimento das pessoas. Essa equação não fecha. Se você só cuida de um lado e não do outro, o desmatamento vira rotina”, explica.
Para Cássio Pereira, secretário de Agricultura Familiar do Pará, o elemento social da luta contra o desmatamento e a proteção da agricultura familiar são essenciais e devem caminhar juntas.
“Somos capazes de conduzir a Amazônia e o planeta no caminho certo. A gente sabe das dificuldades, mas é esse pessoal da agricultura familiar que produz alimentos pro Brasil. São os quilombolas, as comunidades que protegem a floresta. Esses são os atores, o elemento social essencial, para falarmos de como manter floresta de pé e gerar riqueza”, destaca
A violência no campo também foi levantada pelos participantes como uma das causas para o abandono das terras. Com o crescimento de crimes ambientais na Amazônia, pequenos proprietários e comunidades tradicionais sofrem com ameaças e grilagem de terras, o que cria riscos para os moradores e impede a proteção da vegetação nativa.
“Não dá pra manter a floresta em pé com o povo que mora nela deitado. Temos o desafio de fazer a nossa COP e fazer o mundo conhecer a realidade do campo, da dificuldade de conseguir financiamento e de lidar com as mudanças no clima”, convoca Francisco Carvalho, coordenador da Fetraf no Pará.
Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*