Por Sara Leal*
A produção de alimentos no futuro precisa de vegetação nativa, afirmou André Guimarães, diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), durante o painel “Alimentando o próximo bilhão: um modelo para construir sistemas alimentares resilientes ao clima no Sul Global”, realizado nesta sexta-feira (15), no Pavilhão da Agricultura Sustentável das Américas, na COP29, Conferência do Clima de Baku.
Em sua participação, Guimarães citou estudos que mostram que propriedades rurais com percentual maior de vegetação nativa possuem maior produtividade. “Isso já dá uma pista para a gente de que as florestas são um fator de produção, e não um obstáculo. Daqui para o futuro, nós temos que encontrar uma maneira de compatibilizar a conservação ambiental com a produção. Esses tipos de uso do solo não são concorrentes”.
No painel “Transformando sistemas alimentares para deter e reverter o desmatamento até 2030 – o que é necessário?”, Ludmila Rattis citou o desafio em lidar com uma população mundial crescente e manter a segurança alimentar.
“Quando falamos em sistemas alimentares, temos que considerar todos os atores do sistema: o pequeno e grande produtor; aquele que produz desde a soja, o milho e algodão, até o alface, a cenoura, beterraba, passando pela cana e por todos os produtos que fornecem para nós não só comida, mas também a energia e a fibra”, ressaltou Rattis.
Aquecimento global e redução na produção
A elevação da temperatura global já causa impacto na produção agrícola. “A cada grau centígrado de aumento de temperatura, a soja perde entre 5% e 6% da produtividade; o milho perde em torno de 8% de produtividade”, afirmou Guimarães.
Para o diretor executivo, a mitigação do aquecimento passa por apoio a agricultores familiares. “O IPAM forneceu assistência técnica continuada para três mil famílias. Foram 25 milhões de reais investidos e 45 técnicos disponibilizados. Resultado: houve 140% por cento de aumento de renda, em média, e 80% de redução no desmatamento”.
Ainda, Guimarães ressaltou a necessidade de redesenhar incentivos fiscais e demais subsídios. “No Brasil, por exemplo, temos o plano safra, que só agora começa a ter alguma exigência de cumprimento do Código Florestal. Até pouco tempo atrás, se um fazendeiro estivesse fora da lei, a taxa de juros para ele seria igual à do produtor que cumpria as regras. É preciso reposicionar os incentivos para mais intensificação e, consequentemente, liberação de áreas para outros tipos de cultivo ou até mesmo para conservação e recuperação de florestas”, completou.
*Coordenadora de Comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br