O IPAM esteve presente em uma série de eventos realizados no início do mês de outubro, cujo tema central foi a meta do Brasil para o novo acordo climático em Paris, que faz parte da chamada INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida).
No seminário “COP 21 em pauta: As Metas do Brasil para o Acordo em Paris”, promovido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), o Pesquisador Sênior do IPAM, Paulo Moutinho, falou sobre “as cadeias de produção face à nova economia sustentável”. Moutinho argumentou que, em boa medida, o fim do desmatamento na Amazônia representa o maior investimento que o país pode fazer para o crescimento sustentável da produção agrícola. Além do representante do IPAM, este evento contou com a participação do secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e do Observatório do Clima.
O IPAM também participou de dois outros eventos na Câmara dos Deputados, à convite da Frente Parlamentar Ambientalista. No primeiro deles, intitulado “Preparatória da 21° Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP 21”, Paulo Moutinho defendeu a tese de que não é possível esperar até 2030 pelo fim do desmatamento na Amazônia. As mudanças recentes na floresta e no clima da região pedem uma ação rápida quando se trata da conservação e o uso sustentável dos recursos florestais. No evento sobre “Desmatamento Zero e sua importância para o Brasil”, Moutinho novamente mostrou dados científicos que indicam a necessidade de interromper o desmatamento o mais rápido possível para que aumentos na temperatura e redução de chuvas em certas regiões da Amazônia não resultem em prejuízos econômicos e graves problemas socioambientais. Para o pesquisador, a demora em extinguir o desmatamento significa diminuir o papel da floresta como um “regador gigante do agronegócio” e o “ar condicionado” da região. Os dois eventos contaram com a presença de parlamentares desta Frente e de organizações não governamentais com expertise no tema.
Terras Indígenas na Amazônia Brasileira
Durante os eventos, o IPAM lançou dois estudos que demonstram essa relação entre as florestas, os serviços ambientais e o clima. Elaborados em parceira com a GIZ, e com apoio da Embaixada Real da Noruega, os estudos demonstram como as áreas de floresta amazônica contribuem para o equilíbrio do clima. O foco principal destes estudos foi avaliar como as florestas contidas em mais de 110 milhões de hectares, encontradas nas Terras Indígenas da Amazônia Brasileira, funcionam como um “oceano verde” provendo a região com umidade suficiente para manter o clima chuvoso e ameno.
Os estudos, contudo, alertam que este papel de “irrigação” da região exercida pela floresta pode estar ameaçado. Os resultados indicam que as regiões sem uma vasta área coberta por florestas podem se tornar demasiadamente quente. Este parece ser o caso da região do alto Xingu.
A mudança na paisagem naquela região, resultante da perda de floresta nativa para abrigar monoculturas e pastagens, induziu a um aumento da temperatura média entre 4°C e 6°C. Os resultados para a região do Xingu foram obtidos a partir de uma pesquisa recente, ainda não publicada, pelo pesquisador do IPAM, Divino Silvério, em sua tese de doutorado. Aumentos significativos como este tem consequência direta no volume de chuva diminuindo-o. Sem chuvas o prejuízo maior é para a produção agropecuária da região.
Ao longo do tempo, o avanço da derrubada da floresta, mesmo que lento, combinado com os efeitos da mudança climática, que traz seca para boa parte da região amazônica, pode ocasionar mudanças drásticas na vegetação nativa. Um processo de savanização pode já estar em curso. Processo este que vem de certa forma estancado pela existência de grandes áreas florestadas, especialmente aquelas encontradas em territórios indígenas.
No Xingu, por exemplo, o aumento de temperatura poderia ser pior se não houvesse o Parque Indígena do Xingu. Contudo, mesmo as áreas florestadas estão sofrendo os efeitos das alterações climáticas. Entre os anos de 2000 e 2012, cerca de 58% das Terras Indígenas da região já sofrem com anomalias de seca, ou seja, secas mais severas que a média. Dessas, 67% tiveram mais da metade de sua área afetada por secas severas.
Os resultados dos estudos apresentados pelo IPAM reforça o fato de que a gestão ambiental e territorial indígena é a chave para proteção das florestas e para um futuro climático mais ameno, assim como para a adaptação dos povos indígenas às mudanças que já então sendo sentidas. Além disso, o manejo integrado da paisagem é fundamental para minimizar os efeitos das mudanças do clima regionalmente, uma vez o desmatamento e degradação de florestas no entorno agrava os efeitos sentidos dentro das áreas de florestas das Terras Indígenas.