Por Bibiana Alcântara Garrido*
A cooperação entre Brasil e Estados Unidos é fundamental para a proteção global de florestas e, para além dos aportes financeiros diante da iminente adesão norte-americana ao Fundo Amazônia, uma oportunidade para “parceria genuína” entre os países, afirmam especialistas em artigo de opinião no site da agência de notícias internacional Mongabay, publicado na quinta-feira (9).
“Uma parceria genuína é mais do que dinheiro. Estados Unidos e Brasil devem compartilhar sua ciência, tecnologia e dados de ponta para monitorar florestas. Ambos têm agências espaciais de classe mundial e inovações para rastrear e gerenciar o uso da terra”, escrevem John Reid, coautor com Thomas Lovejoy de “Ever Green: Saving Big Forests to Save the Planet” e economista sênior da organização Nia Tero, e Paulo Moutinho, pesquisador sênior e cofundador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Há expectativa de que o anúncio da contribuição dos Estados Unidos ao Fundo Amazônia ocorra durante o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden na Casa Branca, nesta sexta-feira.
“Os EUA devem simultaneamente apoiar fundos emergentes liderados por indígenas, iniciativas estaduais e trabalhos de conservação florestal nos países andinos, que detêm a maior parte das cabeceiras do Amazonas”, acrescentam os especialistas.
Congelado durante o governo de Jair Bolsonaro, o Fundo Amazônia foi reativado depois de uma determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) em novembro de 2022. Com o início do terceiro mandato de Lula, países voltaram a anunciar novos aportes financeiros: em 2023, mais de R$ 3 bilhões destinados pela Noruega foram liberados para aplicação e a Alemanha se comprometeu a destinar 35 milhões de euros. Os dois países fizeram as principais contribuições em 14 anos de Fundo.
O Fundo Amazônia foi criado em 2008, no âmbito do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal), fruto de um alinhamento entre o Brasil e a comunidade internacional para promover políticas públicas e iniciativas privadas de redução do desmatamento e das emissões de gases do efeito estufa. Os recursos recebidos pelo Fundo são gerenciados por um comitê em uma conta do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Contar com a contribuição financeira dos Estados Unidos para esse fim seria crucial e reparador, dado que os EUA têm as maiores emissões históricas do planeta de poluentes e de gases que causam o superaquecimento global. No comentário para a Mongabay, os especialistas lembram que o país também precisa “colocar a casa em ordem”.
“Há a questão da credibilidade. Um refrão comum na extrema-direita brasileira é que os governos doadores estrangeiros sem florestas querem ‘comprar a Amazônia’. Os EUA, que têm a quarta maior área florestal do mundo e a segunda maior emissão de gases de efeito estufa, precisam colocar sua própria casa em ordem. O governo Biden deu os primeiros passos positivos para reduzir as emissões de transporte e usinas de energia por meio de legislação”, avaliam.
Na visão dos autores do artigo, os próximos dois anos serão definitivos para firmar acordos mais ambiciosos pelo clima e pela proteção da sociobiodiversidade entre Brasil e Estados Unidos.
“Temos pelo menos dois anos – e esperamos muitos mais – com líderes brasileiros e americanos que entendem de democracia e estão prontos para mostrar que nossos países compartilham algo melhor do que multidões alimentadas por teorias da conspiração. Compartilhamos o propósito de administrar nosso planeta no futuro e o potencial de exemplificar a colaboração norte-sul para salvar as grandes florestas do planeta”.
Leia o artigo (em inglês ou em português).
*Jornalista no IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br