Por Lucas Guaraldo*
O projeto Conserv é uma ferramenta fundamental para engajar proprietários rurais nos esforços de preservação de vegetação nativa na Amazônia e no Cerrado, enfatizou o diretor executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), André Guimarães, durante a sessão técnica de abertura do 9° Congresso Florestal Brasileiro. O evento discute aspectos da implementação do mercado de carbono e seu papel no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
O Conserv é um projeto em fase de implementação e de adesão voluntária que compensa produtores rurais pela conservação da vegetação nativa dentro de suas propriedades que poderia ser desmatada legalmente. A remuneração é realizada com recursos destinados pelos governos da Noruega e da Holanda.
Atualmente, o programa é responsável por evitar a emissão de 1,8 milhões de toneladas de CO₂ e, em maio de 2022, fechou mais sete novos contratos junto a produtores rurais das regiões leste e oeste de Mato Grosso. No total, a iniciativa engloba 16 propriedades que, juntas, somam 14.320 mil hectares de florestas nativas protegidas que poderiam ser suprimidas legalmente.
“O projeto tem grande potencial de crescimento. Atualmente operamos em 14 mil hectares de floresta, mas o total de áreas passíveis de desmatamento legal chega a mais de 10 milhões de hectares. Nesta área de florestas em propriedades rurais, o carbono estocado equivale a um ano de emissões globais do Brasil. Existe um ativo nas florestas privadas da Amazônia que precisa ser levado em consideração porque conservar essas áreas ajuda no combate às mudanças climáticas, mas também gera renda e protege a biodiversidade e as nascentes de água da região”, sugere Guimarães.
Bom para os negócios
A participação no programa traz, além do impacto positivo na biodiversidade, uma série de benefícios econômicos para os produtores rurais. Segundo o diretor, o crescente mercado de carbono e a inserção de práticas ESG em empresas de diversos ramos traz oportunidades para produtores rurais comprometidos com a conservação da floresta amazônica.
“O mundo está comprador de floresta em pé. Querem produtos e serviços que preservem o meio ambiente. No Brasil, temos floresta em pé que pode ser usada para compensar emissões de carbono, temos áreas degradadas que podem ser recuperadas rapidamente e temos pesquisadores capacitados e especializados nesses assuntos. Preservar a Amazônia, além do bem que faz para o meio ambiente, tem o potencial de atrair muitos investimentos para o Brasil”, sugere Guimarães.
Aplicação
Para mapear as áreas sob maior risco e que poderiam ter papéis mais críticos para a preservação da Amazônia, cientistas do Conserv utilizaram imagens de satélite para analisar diversas variáveis biofísicas e econômicas do bioma, como risco de desmatamento, concentração de espécies endêmicas e presença de infraestrutura.
As informações coletadas são utilizadas na precificação da terra e no valor pago para os produtores por sua preservação, assim como no monitoramento para avaliar o cumprimento dos acordos estabelecidos pelo contrato, como conservação da Reserva Legal e sua proteção contra incêndios e desmatamento.
Com o amadurecimento do projeto e a adesão de novos investidores, André Guimarães afirma que novos fatores podem ser levados em consideração na precificação da terra, como as espécies contidas naquele bioma ou seu papel no abastecimento de cidades e rios.
“Com o andar da carruagem, o mercado vai levar em consideração não só a área preservada, mas também a ‘qualidade’ do carbono coletado. Áreas de risco e áreas de nascente, que possuem uma série de atributos importantes para o Brasil, devem ter um valor maior do que o normal. Podemos passar a entender essas áreas como um “carbono premium”, afirma.
*Estagiário sob supervisão de Natália Moura