Por Sara Leal*
O CONSERV, mecanismo idealizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) que remunera proprietários rurais para manterem o excedente de vegetação nativa, ultrapassou a meta prevista de hectares protegidos em sua segunda etapa.
Mais de 8 mil hectares, que poderiam ser desmatados legalmente, foram conservados desde julho de 2024. Os novos contratos foram firmados em Mato Grosso (Sapezal, Nova Maringá e Tangará da Serra) e no Maranhão (Balsas, Tasso Fragoso e Fortaleza dos Nogueiras).
Para participar do CONSERV, as propriedades passam por verificação de cumprimento à lei, como manutenção dos excedentes, de Reserva Legal e APPs (Áreas de Preservação Permanente), com monitoramento remoto contínuo e vistoria in loco. Uma plataforma da iniciativa está sendo desenvolvida para maior agilidade, segurança e transparência na gestão dos dados territoriais.
“Temos notado um aumento no interesse dos produtores rurais em incentivos financeiros de conservação, o que abre espaço para novos modelos de incentivo a médio prazo”, afirma Fernanda Xavier, coordenadora do IPAM em Mato Grosso. “Não houve desistência nem rejeições significativas neste período, o que demonstra a aderência dos participantes”, completa.
Ainda, pesquisas iniciais para coletar percepções dos participantes e indicadores do projeto sinalizam o investimento do recurso recebido pela iniciativa nas propriedades, como aquisição de bomba de água para caminhão-pipa, compra de mudas nativas para reflorestamento e melhoria das condições de alojamento para os funcionários.
“Mais do que conservar esses hectares, o CONSERV está conseguindo contribuir para uma mudança de paradigma onde produção e conservação não são opostas, mas podem e devem andar juntas. As plantações precisam de chuvas e do clima estável que a vegetação nativa proporciona”, explica André Guimarães, diretor executivo do IPAM.
Além de contribuir tecnicamente com iniciativas do governo brasileiro com base na experiência e conhecimento do CONSERV, o IPAM está desenvolvendo modelos de negócios baseados no mecanismo para que ele possa ganhar escala.
CONSERV
Lançado em 2020, o CONSERV coloca em prática um modelo de negócio eficiente e rentável para produtores, ao mesmo tempo em que identifica o esforço que esses atores desempenham na conservação.
A segunda etapa de contratações tem apoio do SCF (Soft Commodities Forum) e Abiove. Ainda, a iniciativa contribui para as metas de conservação da Estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir) no Estado de Mato Grosso, além de contar com a possibilidade de implementação de melhorias na propriedade por meio de assistência técnica fornecida pela iniciativa Produzindo Certo.
Desde 2020 – época das primeiras contratações – até 2025, o projeto chegou a 32 contratos firmados com proprietários rurais e empresas nos Estados de Mato Grosso, do Pará e do Maranhão. No total, mais de 28 mil hectares foram protegidos nos biomas Amazônia e Cerrado.
Após comprovar a tese de que é possível reduzir o desmatamento legal por meio de compensação financeira, o CONSERV se estabeleceu como um modelo seguro que pode ser escalonado.