Por Mariana Abuchain*
Incêndios recorrentes podem alterar ainda mais a estrutura e o funcionamento do ecossistema, além de diminuir a regeneração das florestas amazônicas, é o que demonstra estudo realizado no âmbito do PELD (Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração), projeto do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) realizado na Estação de Pesquisa Tanguro.
A pesquisa observou as consequências do efeito indireto do fogo nas florestas amazônicas, especificamente no que diz respeito ao aumento da herbivoria – interação ecológica na qual animais consomem plantas, que influencia o estabelecimento, o crescimento e a reprodução da vegetação, consequentemente a estrutura da comunidade vegetal e o funcionamento do ecossistema.
Segundo Lucas Paolucci, professor e pesquisador adjunto do Departamento de Biologia Geral da UFV (Universidade Federal de Viçosa) e um dos autores do estudo, o fogo degrada as florestas não só matando árvores, mas reduzindo a predação de artrópodes herbívoros e diminuindo as interações predador-presa e planta-animal, desencadeando o aumento da herbivoria.
Para o pesquisador, estes resultados são importantes pois constatam vias indiretas pelas quais o fogo contribui para a degradação da Amazônia. “Um dos motivos pelos quais a herbivoria aumentou foi a perda de espécies de formigas predadoras nas florestas queimadas – havia apenas cerca de 55% do número de formigas se comparado às florestas não queimadas”, explica.
Com a pesquisa, foi possível demonstrar a importância do papel dos animais na recuperação de florestas degradadas e como essas atribuições podem ser severamente alteradas pelo fogo.
A partir disso, verificou-se a necessidade de haver um melhor manejo do fogo para evitar a perda de interações ecológicas que contribuem para o ecossistema, fluxo de matéria e energia, como a predação de insetos por formigas.
“Um outro destaque é que estas modificações causadas pelo fogo dificultam ainda mais a regeneração natural de florestas degradadas. Além dos impactos causados pelo fogo, a herbivoria faz com que as árvores tenham sua capacidade fotossintética diminuída e, consequentemente, seu crescimento e reprodução”, comenta o pesquisador.
A Estação de Pesquisa Tanguro é uma base de pesquisa na fronteira agrícola Cerrado-Amazônia, onde desde 2016, o IPAM desenvolve o PELD (Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração) e tem como um de seus parceiros o EcoTrop (Laboratório de Ecologia de Comunidades e Ecossistemas Tropicais) da UFV (Universidade Feral de Viçosa). O estudo completo pode ser acessado aqui.
*Estagiária sob supervisão de Sara Leal