Tainá Andrade*
Mulheres brigadistas de diferentes regiões do país se reuniram, entre os dias 08 e 10 de dezembro, para elaborar o primeiro Plano de Ação de Gênero do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). A iniciativa marca a institucionalização de políticas de equidade dentro do órgão. A reunião teve o apoio do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que aplicou a metodologia para o levantamento de diagnósticos e conduziu a construção do documento final.
Embora o Prevfogo efetuasse ações pontuais relacionadas ao tema desde 2014, como ajustes em uniformes e adequações nos testes físicos de seleção para o cargo, nunca houve uma política interna estruturada. A mudança começou em 2024, com a criação de um grupo de trabalho para discutir o assunto e propor avanços. Porém, percebeu-se a necessidade de avançar para planos mais profundos e sistematizados.
O apoio técnico do IPAM trouxe metodologia, profissionalização e maior rigor ao processo. Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM, reforça que o ordenamento e gestão do fogo se baseia no território e a presença feminina tem sido crescente nas brigadas.
“O IPAM tem feito um esforço em trabalhar em várias frentes no que diz respeito à gestão do fogo e do manejo integrado de fogo. Cada vez mais a gente vê que as mulheres entram para serem brigadistas. É preciso ter esse cuidado de gênero, entender quais são os desafios e o que a gente está fazendo aqui. O apoio do IPAM ao Prevfogo é para que a gente tenha brigadas mais inclusivas, coesas e que o foco seja no principal problema: ter uma paisagem resiliente ao fogo”, explicou.
Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM, faz declaração, no primeiro dia do evento, sobre a importância de ajustes no trabalho de campo das brigadistas. Crédito: Juliana Caribe/IBAMA
Estruturação do plano
O processo foi montado para se basear na realidade das próprias profissionais. A primeira etapa foi a aplicação de questionários para as equipes do Prevfogo. Participaram os servidores, os brigadistas efetivos e temporários, de ambos os gêneros. Esses dados foram compilados e apresentados apenas para as profissionais presentes no no encontro. Divididos em quatro pilares – identidade, pertencimento, práticas e rituais – elas usaram as informações para pensarem em conjunto nas contribuições dentro de cada categoria, a partir das suas vivências em campo.
Foi um dia dedicado a depoimentos, em geral duros e complexos, sobre o trabalho. Os temas giraram em torno de situações de assédio, humilhação, desrespeito, falta de diálogo e sensação de não pertencimento. Por outro lado, foi revelado unanimidade na existência de um propósito ao desempenhar a função.

Mulheres servidoras, brigadistas efetivas e temporárias do Prevfogo se reuniram para dividir experiências e sugerir mudanças dentro de quatro pilares que irão nortear o plano de ação de gênero. Crédito: Juliana Caribe/IBAMA
“Nesse primeiro momento a gente identificou que precisava tanto fazer um diagnóstico de como as brigadistas se veem no ambiente de trabalho, no sentido de condições de trabalho, de estrutura, mas também nas questões de assédio, de se sentirem e também ter esse momento de encontro para a gente ter a oportunidade de conversar, de está mais próximo e de construir de maneira coletiva um plano de ação que pudesse nos orientar. A intenção é que a gente tenha um documento com subsídios, informações, opiniões, vivências de quem está atuando nas diferentes frentes”, especificou Marina Senra, chefe do SEPI (Serviço de Pesquisa e Interagência do Ibama).
Até o momento, um dos pontos mais sensíveis detectados foi a necessidade de mecanismos institucionais claros para denúncias de assédio moral e sexual. Ane Alencar ressalta que a preocupação não é apenas incluir as mulheres nas brigadas, mas criar um espaço seguro para elas. “São coisas que para ter uma inclusão de gênero é preciso ser feito ajustes”, complementou.
O plano deverá ser distribuído internamente no Ibama. O documento orientará ações e protocolos voltados à segurança, inclusão e valorização das mulheres que atuam tanto no campo, quanto nas áreas administrativas do Prevfogo.
*Analista de Comunicação do IPAM

