Mais de 100 pessoas acompanharam presencialmente a quinta edição do PROTEJA Talks no Teatro Estação Gasômetro, em Belém (PA), e outras 737 assistiram ao evento online. Com a temática “Rumo à COP30 – Por áreas protegidas livres de ameaças”, o evento reuniu na última terça-feira (17) palestrantes de várias partes do país, que lideram iniciativas de conservação de áreas protegidas ou trabalham na denúncia de ameaças a estes territórios por meio da comunicação, para dividir suas experiências.
Fábio Bastos, analista de gestão e integrante da comunicação do Instituto Evandro Chagas participou do evento e avaliou a pertinência da discussão. “Foi bastante rico, com exemplos inspiradores para mim e acredito que para todos que estavam assistindo. Só tenho a parabenizar as organizações que estiveram envolvidas na produção e pedir que continue, que tenhamos novas edições do evento, para que por meio dele as pessoas possam conhecer melhor a Amazônia”, comentou.
Debate “Comunicação e áreas protegidas”
Com sete comunicadores e jornalistas de todo o país, o painel discutiu as melhores formas de realizar a cobertura jornalística da Amazônia
Mediado por Bryan Araújo, Diretor de Projetos para Amazônia da Internews, o painel aconteceu pela manhã e reuniu outros seis comunicadores e jornalistas. Quem abriu o debate foi Lúcio Flávio Pinto, jornalista com mais de 50 anos de experiência na cobertura ambiental, que fez um histórico da comunicação e exploração da Amazônia em sua fala.
Ativista indígena desde a adolescência, a jornalista Ariene Susui faz parte do povo Wapichana e relatou a importância da ampliação e do fortalecimento de comunicadores originários. “Colocar a comunicação como estratégia de proteção dos territórios tradicionais é fundamental, porque quando se sai daquele lugar onde povos indígenas são apenas objetos, nós vamos para um lugar onde eu posso escrever sobre meu povo. Ao assumir esses espaços, nós reescrevemos a história”, pontuou.
Brunna Silva, coordenadora de comunicação da Associação Gira Mundo, descreveu o seu trabalho na organização que atua há 10 anos no Amapá e executa projetos de formação ambiental, artística e de comunicação entre comunidades ribeirinhas no arquipélago do Bailique.
Primeira mulher a fazer cobertura nacional para a emissora Globo no Pará, Jalília Messias acumula uma experiência de 20 anos como repórter e narrou seu processo de entrada na cobertura ambiental e as dificuldades em mostrar ameaças ao bioma amazônico no estado.
Bruno Bassi, bolsista do Internews, pesquisador e jornalista no “De olho nos ruralistas”, do Observatório do Agronegócio do Brasil, ressaltou a necessidade de indicar nas produções jornalísticas quem são os responsáveis por violações ambientais. “Estamos vendo a fumaça que tomou em Manaus, mas pouco se falou sobre a origem desse fogo. Quando se fala é de maneira superficial, mas quem botou fogo? De onde veio as queimadas?”, questionou.
Já a exposição de Thiago Medaglia, fundador do ambiental Amazônia e ex-editor do InfoAmazonia, adentrou o projeto “Aquazônia”, iniciativa jornalística-científica que criou um índice de impacto nas Águas da Amazônia, reunindo dados de perda de água e consequências de atividades econômicas, como instalações de hidrelétricas.
Um caminho para a conservação das florestas
As dez palestras realizadas durante a tarde reuniram projetos e iniciativas eficazes na preservação de áreas protegidas.
As dez palestras realizadas durante a tarde trouxeram narrativas de sucesso na preservação de terras indígenas, quilombos e unidades de conservação em toda a Amazônia, pelas vozes de lideranças de povos tradicionais, membros de organizações da sociedade civil e do Governo do Pará.
Manuel Cunha, extrativista e gestor da unidade de conservação Médio do Juruá, localizada no estado do Amazonas, relatou a história de sua comunidade desde a luta pelo território, até a instalação de uma autogestão realizada pelas comunidades extrativistas que hoje produz derivados da borracha, óleos de sementes e faz o manejo de pesca com os peixes pirarucu e tambaqui.
“Quando começamos a trabalhar a pesca, o primeiro pensamento foi de proteger essas espécies, porque já tinha tão pouco, mas tão pouco, que havia possibilidade de acabar. Quando a gente começou a proteger, a espécie respondeu e essa luta de preservação começou a gerar renda para a comunidade”, narra Manuel Cunha.
A história de preservação da terra indígena do Povo Suruí Pater, presente entre os estados do Mato Grosso e Rondônia, foi contada por Amanda Quaresma, filha de família ribeirinha, engenheira florestal e coordenadora de justiça climática na SEPI Pará (Secretaria de Estado dos Povos Indígenas).
Nilson de Oliveira, presidente do IDEFLOR-Bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará), que gere as 28 unidades de conservação do estado, contou como a entidade conseguiu avançar na preservação do monumento natural do Atalaia. Ao criar ações de divulgação sobre a presença de tartarugas marinhas, que desovam em uma das praias da unidade, o Instituto conscientizou a população para reduzir o avanço da cidade nas áreas costeiras.
Mydjere Kayapó Mekrangnotire, relações públicas do Instituto Kabu, discorreu sobre o manejo do Cumaru, uma planta com fruto de cheiro adocicado que é matéria prima para cosméticos, gerando renda para o Povo Kayapó Mekrangnotire e ajudando na luta contra o garimpo.
Os resultados da iniciativa Tô no mapa, que promove a visibilização e proteção territorial de comunidades tradicionais, foram apresentados por Isabel Castro, pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e parte da coordenação do projeto. O projeto permite o automapeamento das comunidades, auxiliando na prevenção a invasão de territórios e mesmo no reconhecimento dessas áreas pelo poder público.
José Carlos Galiza, assessor da MALUNGU (Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará) descreveu a trajetória da sua comunidade Guajará Mirim, localizada no nordeste do Pará, na busca pela titulação do quilombo e na resistência ao avanço de grandes empreendimentos.
Primeira jornalista indígena e apresentadora da TV brasileira, Luciene Kaxinawá expôs como resgatou sua ancestralidade e lutou para incluir sua cultura no trabalho como repórter. Segundo a jornalista, é essencial que a cobertura da Amazônia seja feita por quem vive nela: “Os jornalistas e comunicadores da amazônia tem se interessado e preparado mais para cobrir as pautas da sua região, isso é importante porque nós nos comunicamos diferente quem não é amazônida”, ratifica.
Yura Marubo, assessor jurídico da UNIJAVA (União dos Povos Indígenas do Vale Javari) descreveu o processo de conquista dos territórios das 65 comunidades indígenas da região e a resistência dos povos indígenas às atividades ilegais.
As ações da ENACTUS UFPA (Entrepreneurial Action Us da Universidade Federal do Pará) foram apresentadas por Luise Lima, vice presidente da iniciativa e estudante de engenharia química. A instituição realiza o projeto “Anamã”, que retira resíduos sólidos de afluentes da cidade de Belém.
Os sucessos na luta jurídica realizada pela rede de advogados da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) foram relatados por Cristiana Baré, advogada pertencente ao povo indígena Baré.
O Proteja Talks
Iniciado em 2019, o PROTEJA Talks é um dos produtos do PROTEJA, uma iniciativa que busca preservar áreas protegidas do Brasil por meio da produção e difusão do conhecimento, idealizada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Imazon (Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia ), ISA (Instituto Socioambiental ) e Woodwell Climate Research Center.
O evento segue o formato do TED Talks, onde palestrantes compartilham suas experiências individualmente. Além das palestras, já ocorridas nas edições anteriores, a 5ª edição trouxe a mesa de debate “Comunicação e áreas protegidas”, que reuniu jornalistas e comunicadores experientes em produzir materiais que denunciam ameaças ambientais em áreas de proteção.
O PROTEJA Talks 2023 foi apoiado pelo Governo do Pará, por meio da SEMAS (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade) e da Secult (Secretaria de Cultura); USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional); e NORAD (Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento).
O evento contou com a organização do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), WCS (Wildlife Conservation Society), ISA (Instituto Socioambiental), Internews, COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), TNC (The Nature Conservancy), IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e IIEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil).
*Jornalista IPAM