Carlos da Silva pesquisa cerâmicas para contar a história da Amazônia

23 de dezembro de 2024 | Um Grau e Meio

dez 23, 2024 | Um Grau e Meio

Carlos Augusto da Silva apresentou sua pesquisa no PROTEJA Talks, mostrando como os Povos Indígenas se relacionam com a floresta.

Foi de canoa que o professor Carlos Augusto da Silva iniciou sua trajetória como pesquisador. Nascido no interior do Amazonas, de uma família de origem Apurinã e Munduruku, ele navegava com os irmãos até Manaquiri para ser alfabetizado na Escola São Francisco. 

Cheia de curvas, como um rio, a pesquisa do hoje conhecido como professor “Tijolo” começou nas ciências sociais, mas foi parar na arqueologia graças a uma disciplina de história da Amazônia, que fez o cientista social tomar gosto pela área. Os fluxos desse rio levaram Carlos da Silva a pesquisar cerâmicas indígenas, para contar a história da Amazônia.

Como servidor público no Museu da Amazônia da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), ele ajudou a conservar o patrimônio arqueológico do estado. Escavando sítios e inventariando peças, Carlos fez descobertas valiosas sobre como os povos indígenas do período pré-colonial viviam em meio à floresta.

No doutorado, conduziu uma pesquisa que inventariou uma coleção de cerâmicas e urnas arqueológicas com milhares de peças presentes no município de Urucurituba (AM). 

As cerâmicas indígenas foram os primeiros artefatos a serem reconhecidos nos sítios arqueológicos, presentes em diversas cidades do Amazonas inclusive Urucurituba (AM). O professor relata em sua pesquisa que, além de armazenar água, licores e a manteiga de tartaruga, as cerâmicas eram usadas como urnas funerárias e pintadas com o mesmo padrão das tatuagens dos povos indígenas, que indicavam o povo e a família da qual faziam parte.

Pesando entre 1,4 e 11 quilos, as urnas funerárias não eram feitas apenas com argila, mas também com óleos, resinas e cinzas de árvores, como o caraipé e cauixi, tornando-as mais resistentes, permitindo que os restos dos mortos fossem conservados por mais tempo. Algumas delas têm mais de 2 mil anos e foram encontradas intactas.

Junto com as cerâmicas, o professor encontrou grandes quantidades de “terra preta”, um tipo de solo rico em carbono e nutrientes, presente em vários sítios arqueológicos do Amazonas e já registrado por outros pesquisadores.

A terra preta é um indício de como comunidades inteiras usavam os recursos da floresta para garantir sua sobrevivência e, até mesmo, moldar a paisagem.

Em sua pesquisa, o professor destaca algumas descobertas da arqueologia vegetal, como a existência de um verdadeiro “estoque de alimentos” ao redor das cidades indígenas, formado pela plantação de palmeiras e árvores adaptadas pelos povos originários.

Entre outras tecnologias originárias feitas para conviver com a floresta, estão os “paneiros”, descritos por expedicionários na Amazônia pré-colonial. São estruturas de palha e fibra de palmeiras capazes de armazenar dezenas de quilos de farinha e peixe seco por meses – ítem ainda utilizado por povos e comunidades tradicionais nos dias atuais.

As descobertas do professor Carlos relativas às cerâmicas indígenas reforçam achados passados, mostrando que não apenas os povos originários formavam sociedades complexas com alto grau de conhecimento sobre a floresta, como também contrastam com visões de que a Amazônia é um lugar inóspito que já chegou a ser chamado de “inferno verde”.

Ainda assim, há um longo caminho a ser percorrido, uma vez que muitos dos sítios arqueológicos carecem de tombamento, conservação e ainda não foram, sequer devidamente estudados. A destruição desses espaços pela mudança do uso da terra pode esconder as possíveis inovações tecnológicas criadas a milhares de anos por sociedades indígenas, que as permitiam viver na floresta sem esgotar seus recursos.

 



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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