Por Sara Leal*
Aproximar as pessoas da ciência por meio de museus espalhados pelo Brasil: esta foi a missão e o desafio que Júlia Quintaneiro, divulgadora científica, escolheu. Com formação em ciências biológicas pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), foi na faculdade que a bióloga descobriu o desejo de explicar o “academiquês” para quem não é cientista.
No início da graduação, criou um site para divulgar seus resumos científicos que, depois, acabou abrigando uma espécie de rede social da biologia, onde demais cientistas compartilhavam seus conteúdos. Ali, se deparou com o desafio de comunicar informações tão técnicas para quem não está inserido neste universo.
Após uma formação transversal em divulgação científica, entendeu o que gostaria de fazer – aproximar a ciência das pessoas. Para isso, criou o site Potencial Biótico, escola de divulgação científica e educação com diversos cientistas espalhados pelo Brasil.
Durante seu mestrado em Educação, onde pesquisou educação e divulgação científica, foi ao RedPOP, evento de popularização da Ciência que ocorreu no Rio de Janeiro em 2023. Lá, ganhou um exemplar do Guia de Centros e Museus de Ciência da América Latina e do Caribe, com 221 espaços de ciência no Brasil, entre outros países.
Com o guia em mãos, se animou a visitar os museus de sua cidade, Belo Horizonte, e descobriu vários que ainda não conhecia. Após a defesa de seu mestrado em Educação, o que começou como uma simples editoria no site Potencial Biótico cresceu: Julia devolveu o apartamento onde morava em BH, colocou a vida nas costas e passou a percorrer esses espaços para entender como eles funcionam e compartilhar suas experiências para que outras pessoas queiram visitá-los.
“Os museus têm a capacidade de aproximar seus visitantes pelo contexto local. Eles trazem aquelas questões que parecem ‘gerais’ e de difícil identificação para o território”, explica a divulgadora cientifica.
Dados publicados neste ano pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) mostram que houve um aumento de visitantes em museus (de 6,3% em 2019 para 11,5% em 2023). No entanto, Júlia destaca que o acesso a esses locais segue desigual. “Vemos que a taxa de visitação desses espaços cresce com a renda e escolaridade, o que continua sendo um obstáculo para a democratização do conhecimento”.
Julia deixa algumas sugestões de espaços de ciência para visitação, começando por sua terra. “Quem for a Belo Horizonte precisa ir à Praça da Liberdade, que acolhe vários museus: o Espaço do Conhecimento, o Museu do Gerdau, tem o CCBB [Centro Cultural Banco do Brasil]… vale fazer esse circuito”.
Durante a entrevista, Julia estava em João Pessoa, no Recife, e aproveitou para dar dicas de lá. “Visitei recentemente o Museu de Ciências Nucleares, que é o único do Brasil que existe nesse tema. Há também o Cais do Sertão, por exemplo, que é isso: que definição de Museu de Ciências é esse que a gente está levando? Ele pode ter outros conceitos, né? Então também indicaria como uma forma de contraposição”, completou.
*Coordenadora de Comunicação do IPAM, sara.pereira@ipam.org.br