Cacica transforma aldeia no Baixo Tapajós com iniciativa de ecoturismo

21 de abril de 2025 | Notícias, Um Grau e Meio

abr 21, 2025 | Notícias, Um Grau e Meio

Por Bibiana Alcântara Garrido*

Irenilce Batista Souza é cacica da aldeia Vista Alegre do Kapixauã, na terra Indígena Kumaruara, no Baixo Tapajós, e aos 41 anos conta como passou os últimos sete: trabalhando pela gestão do território. Escolhida pelo povo Kumaruara para assumir o posto aos 34, a cacica hoje celebra as melhorias em prol do ecoturismo que é fonte de renda para todos.

“Nós já trabalhamos há 25 anos com o turismo aqui na aldeia, mas do jeito da gente, recebendo os clientes debaixo de árvores, apresentando os atrativos. Só recentemente que fomos contemplados com um empreendimento que vem trazendo renda para as famílias”, conta a cacica

 

A cacica Irenilce Batista Souza (Bibiana Garrido/IPAM)

 

O ecoturismo na aldeia ganhou mais estrutura com a aprovação de um projeto para construção de uma pousada em uma parte do território bem próxima às margens do rio. O empreendimento, inaugurado em 2024, conta com cozinha, área de alimentação, banheiros, quartos e redários para hospedagem.

São cerca de 30 famílias vivendo em Vista Alegre. A aldeia também tem uma escola para ensino infantil e fundamental. Ainda, recebe eventos em conjunto com aldeias vizinhas e parceiros de outras localidades.

“Trabalhamos em forma de rodízio entre as famílias e todas ganham do turismo. A gente já participou de curso de culinária, de manipulação de alimentos, porque para trabalhar no empreendimento tem que estar capacitado. Depois vamos ter curso de guia de turismo, queremos também o de inglês”, comenta.

A realização dos cursos é apoiada pelo projeto Saúde e Alegria, diz a cacica, o que reforça a profissionalização das famílias que querem trabalhar com o ecoturismo. Nos passeios, os turistas têm a oportunidade de conhecer a aldeia, caminhar por áreas de floresta nativa, navegar e nadar em igarapés.

Na ocasião desta entrevista, a aldeia recebia uma formação para lideranças indígenas sobre REDD+, carbono e mudanças climáticas na Amazônia. A data do evento deve de ser postergada pela seca do rio Tapajós, o que impossibilitava a chegada dos participantes, de alimentos e dos materiais necessários.

“A mudança climática tá cada vez avançando mais e isso só prejudicou a gente. Ficou muito quente, morreu muita planta, inclusive as que a gente regava e que davam frutas. Nosso roçado ficou seco. Muitos familiares ficaram sem mandioca. O clima mudou muito para nós. Até para o turismo isso piorou: passamos metade do verão tendo que buscar os turistas lá na ponta, porque não dava para pegar lancha”, lembra a cacica.

Com decisões tomadas coletivamente, a cada bater do sino – que chama a comunidade para se reunir na maloca central – novos passos são dados em direção à prosperidade e bem-estar na aldeia. Desde o resgate da identidade indígena do povo Kumaruara, em 2011, segundo conta a cacica, a instalação de uma escola indígena na aldeia com ensino da língua para crianças, jovens e adultos, tem dado continuidade à memória viva.

Os planos para o futuro do território incluem, além de investir no trabalho com o ecoturismo, articular cada vez mais ações em prol da conservação da região. Para a cacica, realizar o desejo que tem desde criança: “ver minha aldeia crescer”.

 

*Especialista de comunicação do IPAM, bibiana.garrido@ipam.org.br



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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