Os mapas e dados atualizados do MapBiomas mostram que o Brasil perdeu 87,2 milhões de hectares de áreas de vegetação nativa, de 1985 a 2019. Isso equivale a 10,25% do território nacional. O ritmo de perda de vegetação nativa acelerou no Brasil entre 2018 e 2019. É o que aponta a Coleção 5 do MapBiomas.
A série histórica de mapas e dados anuais de cobertura e uso da terra no país, de 1985 a 2019, foi apresentada na sexta-feira, 28, no 5º Seminário Anual do MapBiomas: Revelando o Uso da Terra no Brasil com Ciência e Transparência. O evento está disponível no YouTube (https://www.youtube.com/mapbiomasbrasil).
A atualização da plataforma, de uso público e gratuito, traz novas funcionalidades e camadas de informação, como a evolução da área de irrigação, a avaliação da qualidade das pastagens e o mapeamento da vegetação natural em regeneração em todo o território nacional.
Os dados da Coleção 5 do MapBiomas mostram que mais da metade da perda de vegetação nativa no Brasil (44 Mha) ocorreu na Amazônia. No Cerrado, a redução foi de 28,5 Mha. Entre os seis biomas brasileiros, foi o que mais perdeu vegetação nativa em termos proporcionais: 21,3%.
O Pampa também teve uma elevada taxa de diminuição de cobertura vegetal remanescente: 20% (2,3 Mha). Por outro lado, a área de florestas plantadas no bioma gaúcho cresceu 4,9 vezes.
No Pantanal, a perda de vegetação nativa foi de 12%, com aumento de 4,7 vezes da área total de pastagens plantadas. Na Caatinga, a queda de área de vegetação remanescente foi de 11%, com expansão de 26% para agropecuária.
Na Mata Atlântica, encontram-se 57% das áreas urbanas do país. A área de infraestrutura urbana no bioma cresceu 2,5 vezes de 1985 a 2019; a área de agricultura dobrou.
De toda a perda de vegetação natural no Brasil, incluindo floresta, savana, campos e mangue, pelo menos 90% foram ocupados pelo uso agropecuário, cuja expansão foi de 78 milhões de hectares (43% de crescimento desde 1985).
Mais dados, mais profundidade, mais transparência
Entre as novidades da Coleção 5 estão dados de desmatamento e regeneração, como a velocidade de perda de vegetação nativa por bioma e visões dos territórios onde, proporcionalmente, há mais vegetação secundária.
Apesar de o país contar com 66,8% do território coberto por vegetação nativa, isso não significa que são áreas preservadas. “O levantamento do MapBiomas aponta que pelo menos 9,3% de toda a vegetação natural do Brasil é secundária, ou seja, são áreas que já foram desmatadas e convertidas para uso antrópico pelo menos uma vez”, explica Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas. “Da área que nunca foi desmatada, há uma fração que já foi degradada por fogo ou exploração madeireira predatória. Quantificar esse processo de degradação das florestas é um dos próximos desafios que vamos enfrentar”, complementa.
No monitoramento das áreas de agropecuária, foram incluídos dados de irrigação, lavouras temporárias, como soja e cana, e perenes, além de melhorias nos mapeamentos de pastagem e agricultura no Brasil.
Entre os trabalhos em versão experimental e inédita, está a avaliação da qualidade das pastagens no Brasil para os anos de 2010 e 2018. “Os dados mostram que houve uma evolução importante. A área de pastagem com sinal de degradação caiu de 72% para pouco mais de 60% em 8 anos”, afirma o professor da UFG e coordenador da equipe de pastagem do MapBiomas, Laerte Ferreira. O entendimento do grau de degradação das pastagens é fundamental tanto para controlar as emissões de gases de efeito estufa quanto para melhorar a produtividade e reduzir a pressão de desmatamento nos biomas. “As pastagens degradadas emitem carbono, enquanto as bem manejadas captam carbono no solo”, explica.
Os mapas anuais de cobertura e uso do solo do Brasil do MapBiomas têm resolução de 30 metros (cada pixel representa uma área de 30 metros x 30 metros). A coleção pode ser baixada e utilizada em sistemas de informação geográfica ou acessada pela plataforma web disponível em mapbiomas.org. É possível visualizar os dados em recortes territoriais de biomas, estados, municípios, terras indígenas, unidades de conservação, infraestrutura de transporte, energia, mineração e bacias hidrográficas; módulos de mapas e estatísticas de desmatamento/supressão e recuperação de florestas e vegetação nativa em todos os biomas do país; além de infográficos e mapa mural do Brasil e de cada bioma. A ferramenta é pública e gratuita.
Webinars aprofundarão os dados
O MapBiomas promoverá, em setembro e outubro, dois webinars por semana para apresentar as novidades da Coleção 5 por bioma e temas transversais, debatendo os dados levantados com especialistas e usuários da plataforma.
“Os webinars permitirão um debate mais aprofundado sobre a situação e a evolução das atividades em cada bioma, qualificando o debate sobre o uso sustentável do território brasileiro”, afirma Júlia Shimbo, pesquisadora do IPAM e coordenadora científica do MapBiomas.
Os eventos online ocorrerão às terças e sextas-feiras, entre 4 de setembro e 9 de outubro, sempre das 10h30 às 12h, com transmissão no YouTube.
● Amazônia (04.09)
● Caatinga (08.09)
● Cerrado (11.09)
● Mata Atlântica (15.09)
● Pastagem (18.09)
● Pampa (22.09)
● Pantanal (25.09)
● Zona Costeira (29.09)
● Fogo (02.10)
● Agricultura, Irrigação e Florestas Plantadas (06.10)
● Cidades, Infraestrutura e Mineração (09.10)
Sobre o MapBiomas: iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Outras iniciativas MapBiomas estão em desenvolvimento na Indonésia, toda a Pan-Amazônia, além de Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa: mapbiomas.org