Por Sara R. Leal¹
Um total de 60 instituições participaram na última terça-feira (19/10) do Bio-business Amazônia, evento associado ao Fórum Mundial de Bioeconomia, realizado na cidade de Belém, capital do Pará. O encontro conectou representantes dos setores da produção (como agricultores e extrativistas), do mercado, da inovação, além de investidores, cooperação internacional, sociedade civil e governos para discutir e identificar oportunidades de negócios, impulsionando o desenvolvimento contínuo da bioeconomia paraense e amazônica.
O governador do Pará, Helder Barbalho, participou da abertura do evento. Em sua fala, ressaltou a importância de encontros como este, que reúnem setores distintos da economia para que a rede “seja cada vez mais ampla e que possamos fazer do Pará um exemplo de que é possível conciliar um mosaico de pessoas que pensam diferente e, por meio da bioeconomia, construir um novo paradigma.”
A iniciativa foi realizada pelo governo do estado do Pará, por intermédio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e do Instituto de Terras do Pará (Iterpa); pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia); pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O evento também contou com a presença de integrantes das embaixadas da Alemanha, da Noruega, da França e da Comunidade Europeia.
Mateus Rocha, diretor do Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados, no Mapa, destacou a relevância de pensar e abrir esses espaços que sejam promissores para a agricultura familiar: “As articulações entre os diferentes setores traz oportunidades de negócios e de articulação que favorecem o cooperativismo em toda a Amazônia, apoiando soluções inovadoras, inclusivas e sustentáveis.”
Apenas o começo
Como resultados do evento, será criada a Rede Bio-business Amazônia, cuja finalidade é estabelecer um intercâmbio permanente para a identificação de oportunidade de negócios e o desenvolvimento da bioeconomia no Pará e na Amazônia; bem como a instituição do Bio-business como evento anual permanente do Pará e, eventualmente, em outros estados amazônicos.
Para Benno Pokorny, Diretor de Bioeconomia da Cooperação para o Desenvolvimento por meio da GIZ, o evento buscou encontrar soluções por meio da união e do diálogo. “Essa é a nossa esperança: que a possibilidade de nos encontrarmos e conversarmos dê um push adicional a iniciativas que estão acreditando na ideia de bioeconomia”, afirmou.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), Mauro O’de Almeida, “se a bioeconomia for impulsionada no estado do Pará, que é a síntese dos desafios econômicos e sociais da Amazônia Legal, conseguiremos inspirar positivamente todos os estados da região para tirar as pessoas da ilegalidade e da pobreza, transformando a vida social e econômica do estado para o desenvolvimento sustentável”.
Desafios e oportunidades amazônicos
Para proporcionar o intercâmbio de informações e a criação de network entre convidados e inscritos, cada rodada de talks teve painelistas de diferentes setores – produção, mercado, pesquisa e inovação aplicada, além do setor de investimento e finanças.
A produtora de cacau da Coopatrans, Elisângela Trzeciak, falou sobre os desafios dos produtores da Amazônia para aumentar a produtividade aliada à conservação. Segundo ela, a regularização ambiental precisa funcionar e ser mais célere, as linhas de crédito carecem de discussão e os pacotes bancários devem ser customizados para atender às demandas de pequenos produtores e de outros atores ligados à bioeconomia.
O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, discorreu sobre os caminhos para o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia. “A rastreabilidade das cadeias será o nosso diferencial, pois não há uma bioeconomia no mundo com carimbo de Amazônia preservada que pode ser mais competitiva que a nossa. O convite é: bioeconomia com floresta preservada e com justiça social”.
Também responderam a perguntas o presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Alberto Opatta; o coordenador de negócios da Fundação Guamá, Milkson Campelo; o representante do sistema agroflorestal (SAF) Pioneiro, Eduardo Martins; o representante do Laboratório de Tecnologia Supercrítica, Raul Carvalho; a representante da Chamma da Amazônia, Fátima Chamma; a Diretora de Sustentabilidade da Natura, Denise Hills; o Head de Sustentabilidade da Bayer, Eduardo Bastos; o chefe do Subnúcleo de Fomento e Aceleração de Empreendimentos Inovadores do BanPará, Carlos Garcia; e o representante da MOV Investimentos, Denis Nakahara.
Os questionamentos foram realizados pelo estudante de agronomia do IFPA (Instituto Federal do Pará), Marcos Vinícius; pela empreendedora da marca Jambu Sinimbu, Tatiana Sinimbu; pela agricultora da Associação de Produtores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós e coordenadora do Conselho Indígena Tupinambá, Raquel Tupinambá; e pela produtora de chocolates orgânicos Filhas do Combu, Viviane Quaresma.
Para o agricultor familiar e presidente da Cooperativa de Fruticultores de Abaetetuba no Pará (Cofruta), Raimundo Brito, o evento fortalece o trabalho dos pequenos produtores. “Além de ouvir as experiências de outras cooperativas, pude conversar com investidores, o que foi uma oportunidade para fazermos mais negócios e, assim, aumentar a nossa demanda e avançar as conquistas no município e na região do baixo Tocantins.”
A mestre de cerimônia foi a cantora e compositora amazônica, Lia Sophia. O encerramento do evento foi marcado pela apresentação do músico e compositor amazônico Nilson Chaves, que também contou com a participação especial de Sophia.
“Por ser rica em biodiversidade, a Amazônia provê uma série de insumos, produtos e serviços. Portanto, não há lugar melhor para promovermos um debate sobre bioeconomia e tentarmos desenhar as estratégias para esse modelo de desenvolvimento para as gerações futuras”, afirmou durante o evento o diretor executivo do IPAM, André Guimarães. “Assim, conseguiremos controlar, em alguma dimensão, as mudanças climáticas, proteger a biodiversidade para o fornecimento de alimentos, cosméticos e remédios do futuro. Preservar a natureza passa a ser, nesse contexto, um bom negócio”.
¹Jornalista e analista de Comunicação no IPAM, sara.pereira@ipam.org.br