Suellen Nunes*
O trânsito intenso, a falta de ciclovias e os desafios sociais e ambientais da Amazônia inspiraram um grupo de amigos de Belém e Ananindeua, no Pará, a criar uma iniciativa que une mobilidade sustentável, justiça climática e engajamento comunitário. Assim nasceu o Coletivo ParáCiclo, em 2015, que tem na bicicleta uma aliada para repensar o futuro das cidades amazônicas.
A ideia surgiu da vivência cotidiana dos ciclistas, que já viam na bicicleta um instrumento de transformação social e ambiental. “Na Região Metropolitana de Belém, a cultura da bicicleta já existe, mas a ausência de condições estruturais e de segurança têm empurrado muitas pessoas, especialmente mulheres, para os veículos motorizados”, explica Leonard Grala, responsável pelo coletivo.
Ao discutir os desafios da Amazônia, os integrantes perceberam que pedalar não se limita a uma alternativa de mobilidade: é também uma forma de enfrentar desigualdades sociais, promover justiça climática e reconectar as pessoas aos seus territórios.
Objetivos e ações ambientais
O ParáCiclo atua em diferentes frentes que integram mobilidade ativa, meio ambiente e participação social. Entre os principais objetivos estão:
- Promover a mobilidade ativa e sustentável, mostrando que a bicicleta é uma alternativa viável de transporte urbano, contribuindo para reduzir emissões de poluentes e congestionamentos;
- Combater desigualdades sociais, pois a bicicleta é trabalhada como ferramenta de autonomia e empoderamento, especialmente para mulheres, crianças e moradores de periferias;
- Influenciar políticas públicas, uma vez que o coletivo dialoga com gestores públicos para garantir investimentos em ciclovias e políticas de incentivo ao uso da bicicleta.
Além, é claro, de conscientizar sobre a Amazônia. Em ações como as “Bicicletas Douradas em Cotijuba”, o meio de transporte é usado para aproximar as pessoas da floresta e despertar o senso de conservação. Entre os projetos já realizados, destacam-se o “Pedalar é Preciso, Amazônia Necessária!”, o “Perifa na Pista”, que fortalece o protagonismo de mulheres ciclistas, e iniciativas de coleta e análise de dados sobre mobilidade em Belém.
Mobilização comunitária
Hoje, o ParáCiclo reúne entre 5 e 10 pessoas na coordenação e cerca de 50 voluntários. As ações contam ainda com a participação direta de centenas de moradores das periferias da capital paraense.
No último ano, o Circuito de Mobilidade percorreu bairros periféricos de Belém para debater meio ambiente, direito à cidade e transporte sustentável. Mais de 300 pessoas participaram das atividades. “Para engajar a comunidade, é essencial trabalhar junto com lideranças locais e mostrar que a bicicleta não é apenas um símbolo, mas um chamado para a ação e para a transformação socioambiental”, afirma Leonard.
Bicicleta, educação e meio ambiente
Além dos impactos sociais, o uso coletivo da bicicleta também contribui para a conservação ambiental. Entre os benefícios apontados estão a redução da poluição do ar e do consumo de combustíveis fósseis, a diminuição do ruído urbano, a ocupação mais racional do espaço viário e a maior conexão das pessoas com a cidade e com a natureza.
A educação ambiental é um dos pilares do trabalho do ParáCiclo. O grupo promove palestras, oficinas e rodas de conversa sobre mobilidade sustentável, mudanças climáticas e mecânica de bicicletas. Para os próximos anos, o coletivo sonha com cidades amazônicas mais humanas, inclusivas e verdes. “Queremos que a bicicleta seja uma alternativa para todos, especialmente para mulheres, crianças e idosos. Nosso desejo é ver mais ciclovias, mais políticas públicas e mais pessoas pedalando”, reforçam os integrantes.
Ações na COP 30
Em 2025, o coletivo terá uma agenda especial voltada ao meio ambiente. Para o Dia da Amazônia, em 5 de setembro, está prevista uma ação durante o Bicicultura em Niterói (RJ). Já na COP30, em Belém, o ParáCiclo organizará rodas de conversa e um Pedal Manifesto, em parceria com a União de Ciclistas do Brasil (UCB) e organizações internacionais.
Analista de comunicação do IPAM*.
