Os números divulgados do desmatamento na Amazônia hoje, pelo governo federal, mostram que a derrubada da floresta ganha força quando deveria cair. Entre agosto de 2018 e julho deste ano, foram derrubados 9.762 quilômetros quadrados, o que representa um crescimento de 30% em relação ao ano anterior, segundo o sistema Prodes, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Chega-se perigosamente ao patamar dos dois dígitos – um cenário que o Brasil não vê há uma década. É o índice mais alto desde 2008, quando começou a operar o Fundo Amazônia pelo governo federal.
O país não tem conseguido controlar a destruição da maior floresta tropical do mundo, e os dados anunciados reforçam esse fato. Outro número consolida tal impressão: segundo o Deter, outro sistema de alertas do INPE, 40% dessa derrubada, entre janeiro e julho deste ano, aconteceu em terras públicas. Esse índice, que já era alto, em torno de 30% nos últimos cinco anos, subiu numa taxa maior do que observado antes.
“As terras públicas são áreas de responsabilidade do poder público, onde ações de comando e controle são fundamentais para coibir a grilagem de terras e a extração ilegal da madeira”, diz a diretora sênior de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar. Quando o desmatamento cresce nessas áreas, é cristalino a fragilidade da fiscalização em campo.
Às vésperas de mais uma Conferência do Clima da ONU, o aumento do desmatamento, somado às queimadas em agosto na Amazônia e a denúncias de ataques a populações tradicionais, tende a enfraquecer a posição do Brasil como defensor da floresta e do clima. Corre-se o risco de o país tornar-se um pária numa época em que a commodity ambiental tem grande valor nas relações internacionais.
O Brasil tem condições de zerar o desmatamento na Amazônia com crescimento econômico. Foi o que aconteceu nos últimos 15 anos, quando a taxa anual caiu de 27,8 mil km² (em 2004) para patamares em torno de 5 mil a 6 mil km² (entre 2012 e 2015), e a produção agrícola continuou a aumentar. Um dos motivos é a existência de 10 milhões de hectares de pastagens abandonadas ou mal aproveitadas na região, que podem ser usadas para a expansão da produção de grãos e gado.
Iniciativas que estimulem a economia florestal precisam sair do chão. Os governos estaduais devem ser estimulados e apoiados a aumentarem a eficiência de sistemas de monitoramento e regularização ambiental. As forças públicas devem se voltar para o campo, e as terras públicas não destinadas devem ser encaminhadas à preservação ambiental, com a criação de novas regiões protegidas, para que a floresta continue a prover água para a produção agrícola e a geração de energia.