Por Lucas Guaraldo*
Durante o Aquilombar, evento que reuniu quilombolas e lideranças rurais de todo o país em Brasília nesta semana, pesquisadoras do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) puderam ouvir demandas e reivindicações e apresentar as funcionalidades do aplicativo do Tô no Mapa.
A manifestação foi organizada pela Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e tem como objetivo pleitear o direito dos quilombos ao uso da terra e demarcação de seus territórios, além de promover palestras e debates com lideranças sociais e políticas de todo o Brasil.
“Como quilombola, o Aquilombar é importante para dar visibilidade aos nossos quilombos brasileiros e às demandas pela nossa terra, para valorizar o trabalhador da agroecologia e para garantir nossos direitos como um todo. Todos unidos por uma só causa!”, defende o morador do Quilombo Barro Vermelho, município de Chapadinha, Maranhão, José Orlando.
Além de informações sobre o uso do aplicativo, pesquisadoras do IPAM explicaram o contexto do projeto, divulgaram dados e conversaram sobre a importância do automapeamento desses territórios. Ao todo, cerca de 127 pessoas visitaram o estande, que também realizou o sorteio de camisetas sobre a ferramenta.
“A força do Tô no Mapa está justamente em obter o maior número de comunidades cadastradas e termos um grande mapa dessas populações. A oportunidade de estar em um evento como esse, ouvindo lideranças e conversando com representantes de todo o país, é única. O Brasil é formado por uma série de comunidades que são, infelizmente, invisibilizadas, mas que agora podem participar na demarcação de seus territórios”, explica a coordenadora de projetos no IPAM e do Tô no Mapa, Isabel Castro.
Cooperação
Segundo o último relatório divulgado, os quilombolas representam o maior grupo mapeado pelo Tô no Mapa, correspondendo a 37% de todos os territórios indicados no aplicativo. Atualmente, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem cerca de 5.972 quilombos, presentes em 1.674 municípios de 24 Estados e nos nove principais biomas brasileiro.
“Os quilombolas, hoje em dia, junto aos indígenas, são um segmento muito reconhecido por seu histórico de lutas por seus territórios. Apresentar o Tô no Mapa a esses grupos é fundamental para a legitimidade da iniciativa”, afirma Castro.
Como fruto da defasagem dos dados públicos sobre quilombos e outras comunidades tradicionais, muitas demandas desses povos são desconhecidas, impedindo a criação de iniciativas e políticas públicas efetivas. Nesse sentido, o Aquilombar também representou uma oportunidade de diálogo entre pesquisadores e quilombolas.
“O evento foi uma oportunidade do IPAM apresentar a iniciativa do Tô no Mapa, como também de escutar as demandas dos quilombolas sobre questões fundiárias, de agricultura, educação, saúde, incidência política qualificada, previdência social, racismo, juventude, mulheres e censo quilombola. A estimativa da Conaq é de que existem cerca de 1.300 quilombos no Estado do Maranhão, mas apenas 766 estão identificados e 58 estão de fato homologados”, ressalta a pesquisadora do IPAM Isabela Pires, que acompanhou os quilombolas na manifestação em Brasília.
Sobre o Tô no Mapa
O Tô no Mapa é fruto da parceria entre o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), o ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza) e a Rede Cerrado, com o apoio do Instituto Cerrados. A ferramenta pretende suprir a ausência de dados oficiais sobre Territórios Tradicionais, principalmente no bioma Cerrado.
Dados do último relatório, lançado em janeiro de 2022, indicam que a maioria dos 91 territórios do Tô no Mapa mapeados está em Minas Gerais (23%), Mato Grosso do Sul (19%), Bahia (14%) e Goiás (14%). Também se cadastraram comunidades de Maranhão, Mato Grosso, Piauí e Tocantins. No total, além dos quilombolas, são dez diferentes segmentos de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares, como indígenas, fundo e fecho de pasto
O Tô no Mapa está disponível para Android e para iOS.
Estagiário sob supervisão de Natália Moura*