Pesquisas realizadas por estudantes ligados a Universidade de Chicago (EUA) e universidades brasileiras foram apresentadas em um evento sobre desmatamento na Amazônia realizado no dia 22, no Ministério do Meio Ambiente, em Brasília. Elas são resultado de uma parceria entre o Instituto de Pesquisa da Amazônia (IPAM), a Universidade de Chicago, o Woods Hole Research Center (WHRC) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
Como parte do trabalho, o grupo também apontou uma lista de recomendações de políticas públicas que podem contribuir para a redução do desmatamento na região. Os estudantes passaram dois meses e meio debruçados sobre o tema. “É urgente que encontremos soluções para o desmatamento da Amazônia”, diz o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães.
“Apesar do curto período de dez semanas, esses estudantes trabalharam lado a lado com pesquisadores do IPAM e o trabalho foi realmente incrível. Nós adoraríamos manter essa parceria de pesquisa, porque é o que realmente buscamos.”
Uma das pesquisas analisa alguns possíveis impactos ambientais caso a PEC 215, que visa a transferir a homologação de terras indígenas do Executivo para o Legislativo, seja aprovada. Isso fragilizaria o processo de criação de novas TIs, o que abriria espaço para desmatamento nessas áreas.
“As emissões de CO2 aumentariam em 21 milhões de toneladas, o que representa 2% da meta brasileira de emissões de gases estufa para 2030”, explica as autoras, Alicia Barceinas e Ariane Rodrigues. A criação de territórios indígenas preserva os recursos naturais e pode contribuir para o cumprimento dessas metas, assumidas pelo país durante a 21ª Conferência do Clima (COP 21).
De acordo com o estudo, 44 terras indígenas aguardam a homologação na Amazônia e, caso a PEC 215 seja aprovada, mesmo em um cenário conservador com cumprimento do Código Florestal, o desmatamento nessas áreas pode dobrar, ultrapassando os 14 mil quilômetros quadrados. Isso também reduziria a frequência de chuvas pelo país, impulsionando eventos de seca e fragilizando os ambientes a incêndios e à degradação florestal.
Um outro estudo, apresentado no mesmo simpósio, examina a proposta de pavimentação da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e seus efeitos na mudança do uso da terra na Amazônia brasileira. Segundo Hannah Bent e Wanessa Silva, “o desenvolvimento de estradas especialmente na Amazônia custa a cobertura florestal e a biodiversidade. O planejamento participativo é fundamental para combater a perda de floresta e outras consequências negativas antes da pavimentação das estradas”.
A análise aponta um aumento do grau de vulnerabilidade ao longo da rodovia, caso políticas que promovam a conservação e o desenvolvimento sustentável não sejam executadas. Por outro lado, se medidas para limitar as emissões de CO2 forem implementadas, a pavimentação não colocaria em risco o cumprimento das metas de redução de gases estufa projetadas para 2025 e 2030.
No campo
Sobre os efeitos ambientais da intensificação agropecuária, Jonas Inkotte e Nini Gu concluíram que a intensificação da bovinocultura de corte é necessária para que Mato Grosso alcance as metas estaduais propostas na COP21 de aumentar a produção agropecuária com menos gases estufa.
De acordo com seu estudo, ao triplicar a criação de animais num mesmo espaço, a produção aumentaria de 65 para 330 quilos anuais de carne por hectare, com o dobro de lucro. Essa mudança liberaria 16 milhões de hectares, área suficiente para alcançar as propostas do governo do Estado para agricultura e florestas plantadas. “A intensificação poderia reduzir as emissões por unidade de carne bovina produzida, potencialmente eliminar a necessidade de novos desmatamentos e, ainda, diminuir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa em 15 anos”, afirmam os autores.
Outra pesquisa analisou a regularização fundiária e os efeitos do Programa Terra Legal, de regularização de posse de terras. Leith McIndewar examinou as mudanças ocorridas após o registro dessas propriedades, entre 2009 e 2014: as que entraram mais cedo no Terra Legal apresentaram menor taxa de desmatamento acumulado nos cinco anos do período analisado. “O aumento da governança sobre a terra tem um papel importante em controlar o desmatamento na região, juntamente com outras estratégias”, conclui McIndewar.
A última pesquisa apresentada avalia como o desmatamento na bacia do Rio Tapajós afeta a variabilidade sazonal na vazão de água, a evapotranspiração e a energia líquida. Os dados analisados por Joel Smith e Soudeep Deb apontam que a quantidade estimada de área total desmatada até 2030 será de 42% a 105% maior do que num cenário sem a construção de hidrelétricas. Para evitar o problema, os estudantes sugerem “o uso de estratégias alternativas de energia que mantenham o bom funcionamento do ciclo da água, como a energia solar e eólica, a priorização de políticas que reduzam os custos de restauração florestal e incentivem a manutenção de áreas florestais e o esforço para manter o ciclo de água funcionando tanto para a vazão do rio quanto para a precipitação”.
Estavam presentes no simpósio pesquisadores de diversas áreas, além de representantes do governo, da sociedade civil e outros atores importantes no cenário ambiental brasileiro e internacional.