Lays Ushirobira*
Com o tema “Amazônia sustentável: o papel do comércio internacional e dos investidores”, o terceiro episódio da série Amazoniar foi ao ar na última quinta-feira (7). O projeto é uma iniciativa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com o apoio do OCAA (Observatório de Comércio e Ambiente na Amazônia) e existe para abrir um canal de diálogos entre Brasil e Europa que discuta a Amazônia e dê visibilidade aos impactos sentidos pela floresta.
Fundador e CEO do Brokering Solidarity, o holandês Marco van der Ree, e o gerente de portfólio da Fama Investimentos, Fabio Alperowitch, foram os convidados dessa rodada, moderada pelo pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho.
Desperdício de oportunidades
Nos últimos 25 anos, a Amazônia perdeu aproximadamente 10 vezes o tamanho da Holanda para o desmatamento. Segundo Van der Ree, isso indica que, ao mesmo tempo em que o país desperdiçou a possibilidade de aproveitar a riqueza existente nessas áreas, comprometeu a qualidade de vida no planeta e perdeu oportunidades de empreender e garantir altos retornos financeiros.
“Acho um absurdo que o Brasil, até esse momento, não tenha uma visão econômica sobre o valor do carbono”, destacou. “A Amazônia estoca entre 80 e 120 toneladas de CO2. Considerando o mercado europeu de certificação de carbono, isso pode chegar até 20 trilhões de reais por ano”, indicou van der Ree.
A taxa de desmatamento na região amazônica em 2020 foi a maior desde o ano de 2008. Mais de 50% dessa perda – grande parte, uma consequência da grilagem de terras – atingiu florestas públicas, ou seja, patrimônio dos brasileiros. A situação prejudicou a imagem do país não apenas entre ativistas e políticos, mas também entre empresários e investidores do setor financeiro, alertou o pesquisador Paulo Moutinho.
Consumidores ao redor do mundo estão mais conscientes sobre o valor de cada etapa da cadeia de produção e a tendência é que o consumo seja cada vez mais impactado por cobranças de responsabilidade ambiental e social. “O consumidor millenium, o consumidor do futuro, não quer produtos ligados ao desmatamento”, destacou van der Ree. “Muitas empresas estão se dando conta de que precisam mudar sua perspectiva”, completou.
Essas mudanças favorecem o diálogo entre mercado financeiro e sociedade civil – o que, até pouco tempo, “eram dois mundos afastados”, como definiu Fabio Alperowitch, da Fama Investimentos. “O ano de 2020, com todos os desafios que nos trouxe, criou várias pontes, não só internacionais como nacionais também. Em se tratando do contexto brasileiro, a Amazônia e o meio ambiente passaram a ser assunto de investidor”, disse.
Alperowitch destacou a necessidade de ir além do discurso, lembrando a importância de uma comunicação transparente com parceiros e consumidores. “O excesso de greenwashing tem trazido mais regulação. Quando as pessoas precisam mostrar de fato o impacto, ele começa a acontecer e o mercado financeiro começa a olhar para a sustentabilidade de outro jeito”, salientou.
A transmissão completa do seminário está disponível.
Assista também aos episódios anteriores no canal do IPAM no YouTube. Lista completa aqui.
*Jornalista e consultora de comunicação do IPAM