Por Maria Garcia*
Foi mergulhando no rio Guamá em sua passagem pela Ilha do Combu (PA), em 2017, que a empreendedora social Kamila Camilo foi “chamada” para ouvir o apelo da natureza à sua volta. A paulistana de 32 anos, que há menos de um mês encerrou uma agenda atribulada de eventos na Semana do Clima em Nova York, relembra a sensação da sua primeira vez na Amazônia há nove anos, quando ainda não era ativista climática e se voluntariou para o projeto Barco Hacker – iniciativa de tecnologia e inovação pelos rios do bioma.
Kamila já era engajada nas pautas sociais desde os 10 anos onde nasceu, na Zona Leste de São Paulo. As águas profundas da Ilha do Combu, contudo, foram por um “milagre dos rios” o agente que mudou o seu olhar diante da vegetação que a circundava. “Pela primeira vez eu entendi o que é a interdependência e por que as questões sociais e ambientais estão conectadas. Eu não tinha essa noção”, remonta a memória da sua jornada onde também conheceu a Ilha das Onças (PA) e o município de Barcarena (PA).
Ela converteu, anos depois, sua vivência transformadora em uma ideia: por que não reverberar essa imersão com a natureza para pessoas que realmente poderiam fazer a diferença para a comunicação ambiental e climática? Foi o que ela pensou, em conversa com seu amigo Raul Santiago, durante a presença que ambos faziam na COP (Conferência do Clima das Nações Unidas) em Glasgow, na Escócia.
E assim nasceu o Creators Academy que, desde 2022, convida influenciadores digitais, produtores de conteúdo na internet, além de repórteres de jornal e revista para desfrutarem as mesmas águas amazônidas por onde a ativista esteve em 2017 – e tocar a estratégia de transformar as sensações dos comunicadores em palco para novas conexões e significados com o meio ambiente.
Viajar é preciso
A plataforma Creators Academy parte da ideia de que as pessoas só cuidam daquilo que conhecem e conta com três frentes de ação: sentir, refletir e agir. “Tem pesquisas que apontam como as experiências em viagens impactam as pessoas. Quando perguntam a elas qual foi o dia mais feliz que tiveram, com muita frequência respondem que ocorreu em um lugar fora de casa. Se a viagem é tão transformadora, o que fazemos é apenas mediá-la”, disse Kamila.
A lista de quem passou pelo retiro agrega influenciadores com milhares ou até milhões de seguidores, a exemplo da guru de finanças Nathalia Arcuri, da produtora de conteúdo e atriz global Mariana Xavier e do comediante e influenciador digital Hawk.
@natharcuri Um resumo do que eu aprendi, vou levar comigo e passar adiante 💚 @CreatorsAcademy Brasil @PerifaConnection #criaspelafloresta #acreators #amazonia #sustentabilidade #povosoriginariosdobrasil ♬ som original – Nath Arcuri
Kamila não espera que os seus convidados se tornem ativistas climáticos da noite para o dia, mas acredita que a experiência já tenha rendido frutos e impactou a produção de conteúdo das redes sociais. “Mariana [Xavier] já fez esquetes pelo clima e Hawk, que produz conteúdos de humor, vez ou outra transforma suas piadas em uma crítica às mudanças climáticas”, apontou a empreendedora social. O mais importante é que a agenda ambiental entre menos pela razão e mais pelas sensações do corpo. Afinal, o que é sentido é também falado.
Por uma nova comunicação
Influenciadores digitais, plataformas de conteúdo, redes sociais. Todos esses espaços, na visão da empreendedora social, podem se tornar oportunidades para escalar uma mensagem importante como a da agenda climática.
O poder de contar histórias, desenvolver personagens e afinar a mensagem para diversos públicos se aprimora em conjunto com influenciadores para alcançar um público maior. Kamila, que também faz parte da Global Shapers Community, iniciativa do Fórum Econômico Mundial, acredita que fala o óbvio sobre o clima em sua presença em eventos nacionais e internacionais. “Eu só sou uma melhor contadora de histórias, e essa é uma grande diferença”, disse.
Diante dos novos achados científicos sobre o clima e a importância da conservação da natureza para o bem estar, a dica que a empreendedora social dá aos cientistas é que eles “saiam cada vez mais do pedestal” para galgar novos espaços e dar aos resultados mais alcance. “De que adianta fazer um paper na academia se não tem alguém que vai divulgar para o mundo e influenciar pessoas? É necessário ter humildade, criar o tripé e realizar a integração”, aconselhou Kamila.
*jornalista do IPAM
* Foto de capa: Edgar Azevedo/Agência Brasil